Mar português
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
PESSOA, F. Mensagens. São Paulo: Difel, 1986.
Nos versos 1 e 2, a hipérbole e a metonímia foram
utilizadas para subverter a realidade. Qual o objetivo
dessa subversão para a constituição temática do poema?
Logo todos na cidade souberam: Halim se embeiçara
por Zana. As cristãs maronitas de Manaus, velhas e
moças, não aceitavam a ideia de ver Zana casar–se com
um muçulmano. Ficavam de vigília na calçada do Biblos,
encomendavam novenas para que ela não se casasse
com Halim. Diziam a Deus e ao mundo fuxicos assim: que
ele era um mascate, um teque–teque qualquer, um rude,
um maometano das montanhas do sul do Líbano que se
vestia como um pé rapado e matraqueava nas ruas e
praças de Manaus. Galib reagiu, enxotou as beatas: que
deixassem sua filha em paz, aquela ladainha prejudicava
o movimento do Biblos. Zana se recolheu ao quarto. Os
clientes queriam vê–la, e o assunto do almoço era só este:
a reclusão da moça, o amor louco do “maometano".
HATOUM, M. Dois irmãos. São Paulo: Cia. das Letras, 2006 (fragmento).
Dois irmãos narra a história da família que Halim e
Zana formaram na segunda metade do século XX.
Considerando o perfil sociocultural das personagens e os
valores sociais da época, a oposição ao casamento dos
dois evidencia
TEXTO I
Dois quadros
Na seca inclemente do nosso Nordeste,
O sol é mais quente e o céu mais azul
E o povo se achando sem pão e sem veste,
Viaja à procura das terras do Sul.
De nuvem no espaço, não há um farrapo,
Se acaba a esperança da gente roceira,
Na mesma lagoa da festa do sapo,
Agita–se o vento levando a poeira.
TEXTO II
ABC do Nordeste flagelado
O – Outro tem opinião
de deixar mãe, deixar pai,
porém para o Sul não vai,
procura outra direção.
Vai bater no Maranhão
onde nunca falta inverno;
outro com grande consterno
deixa o casebre e a mobília
e leva a sua família
pra construção do governo.
Disponível em: www.revista.agulha.com.br. Acesso em: 23 abr. 2010 (fragmento).
Os Textos I e II são de autoria do escritor nordestino
Patativa do Assaré, que, em sua obra, retrata de forma
bastante peculiar os problemas de sua região. Esses
textos têm em comum o fato de abordarem
O rio que fazia uma volta atrás de nossa casa era a imagem
de um vidro mole que fazia uma volta atrás de casa.
Passou um homem depois e disse: Essa volta que o rio faz
por trás de sua casa se chama enseada.
Não era mais a imagem de uma cobra de vidro que fazia
uma volta atrás da casa.
Era uma enseada.
Acho que o nome empobreceu a imagem.
BARROS, M. O livro das ignorãças. Rio de Janeiro: Record, 2001.
Manoel de Barros desenvolve uma poética singular,
marcada por “narrativas alegóricas", que transparecem
nas imagens construídas ao longo do texto. No poema,
essa característica aparece representada pelo uso do
recurso de
O cordelista por ele mesmo
Aos doze anos eu era
forte, esperto e nutrido.
Vinha do Sítio de Piroca
muito alegre e divertido
vender cestos e balaios
que eu mesmo havia tecido.
Passava o dia na feira
e à tarde regressava
levando umas panelas
que minha mãe comprava
e bebendo água salgada
nas cacimbas onde passava.
BORGES, J. F. Dicionário dos sonhos e outras histórias de cordel.
Porto Alegre: LP&M, 2003 (fragmento).
Literatura de cordel é uma criação popular em verso,
cuja linguagem privilegia, tematicamente, histórias de
cunho regional, lendas, fatos ocorridos para firmar certas
crenças e ações destacadas nas sociedades locais.
A respeito do uso das formas variantes da linguagem no
Brasil, o verso do fragmento que permite reconhecer uma
região brasileira é
Meu povo, meu poema
Meu povo e meu poema crescem juntos
Como cresce no fruto
A árvore nova
No povo meu poema vai nascendo
Como no canavial
Nasce verde o açúcar
No povo meu poema está maduro
Como o sol
Na garganta do futuro
Meu povo em meu poema
Se reflete
Como espiga se funde em terra fértil
Ao povo seu poema aqui devolvo
Menos como quem canta
Do que planta
FERREIRA GULLAR. Toda poesia. José Olympio: Rio de Janeiro, 2000.
O texto Meu povo, meu poema, de Ferreira Gullar, foi
escrito na década de 1970. Nele, o diálogo com o contexto
sociopolítico em que se insere expressa uma voz poética que

O conflito de gerações e de grupos étnicos reproduz, na visão do eu lírico, um contexto social assinalado por
Na verdade, o que se chama genericamente de índios é um grupo de mais de trezentos povos que, juntos, falam mais de 180 línguas diferentes. Cada um desses povos possui diferentes historias, lendas, tradições, conceitos e olhares sobre a vida, sobre a liberdade, sobre o tempo e sobre a natureza. Em comum, tais comunidades apresentam a profunda comunhão com o ambiente em que vivem, o respeito em relação aos indivíduos mais velhos, a preocupação com as futuras gerações, eo senso de que a felicidade individual depende do êxito do grupo. Para eles, o sucesso é resultado de uma construção coletiva. Estas ideias, partilhadas pelos povos indígenas, são indispensáveis para construir qualquer noção moderna de civilização.Os verdadeiro representantes do atraso no nosso país não são os índios, mas aqueles que se pautam por visões preconceituosas e ultrapassadas de “progresso”.
AZZI, R As razoes de ser guarani-kalowa. Disponivel em:www,outraspalavras.net
Acesso em: 7dez.2012.
Considerando-se as informações abordadas no texto, ao incia-lo com a expressão “na verdade”, o autor tem como objetivo principal

Coerente com a proposta parnasiana de cuidado formal e racionalidade na condução temática, o soneto de Raimundo Correia refrete sobre a forma como as emoções do individuo são julgadas em sociedade. Na concepção do eu lírico, esse julgamento revela que
Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida. Mas antes da pré história havia a préhistoria da pré historia e há via o nunca e havia o sim. Sempre houve. Não sei o que, mas sei que o universo jamais começou.
[...]
Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta continuarei a escrever. Como começar pelo incio, se as coisas acontecem antes de acontecer? Se antes de pré pré historia já havia os monstros apocalípticos? Se esta historia não existe, passara a existir. Pensar é um ato.Sentir é um fato. Os dois juntos sou eu que escrevo o que estou escrevendo [...]Felicidades? Nunca vi palavra mais doida, inventada pelas nordestinas que andam por aí aos montes.
Como eu ireis dizer agora, esta historia será o resultado de uma visao gradual há dois anos e meio venho aos poucos descobrindo os porquês. É visao da iminência de.De que? Quem sabe se mais tarde saberei. Como que estou escrevendo na hora mesma em que sou lido. Só não inicio pelo fim que justificaria o começo como a morte parece dizer sobre a vida porque preciso registrar os fatos antecedentes
LISPECTOR. C . A hora da estrala. Rio de Janeiro; Rocco 1998 (fragmentado).
A elaboração de uma voz narrativa peculiar acompanha a trajetoria literária de Clarice Lispector, culminada com a obra. A hora da estrela de 1977, ano da morte da escritora. Nesse fragmento, nota-se essa peculiaridade porque o narrador
Concurso de microcontos no Twitter
A nona edição do Simpósio Internacional de
Contadores de História promove concurso de microcontos
baseado no Twitter. Os interessados devem ter uma
conta no Twitter, seguir o @simposioconta e escrever um
microconto de gênero suspense, com tema livre. O conto
deve seguir as regras do Twitter: apenas 140 caracteres.
ELINA, R. Disponível em: www.consuladosocial.com.br. Acesso em: 28 jul. 2010.
Na atualidade, o texto traz uma proposta de utilização do
Twitter como ferramenta que proporciona uma construção
rápida, sintética e definida pelo gênero suspense. Isso
demonstra que essa rede social pode ser uma forma de
inovação tecnológica que
Grupo escolar
Sonhei com um general de ombros largos
que fedia
e que no sonho me apontava a poesia
enquanto um pássaro pensava suas penas
e já sem resistência resistia.
O general acordou e eu que sonhava
face a face deslizei à dura via
vi seus olhos que tremiam, ombros largos,
vi seu queixo modelado a esquadria
vi que o tempo galopando evaporava
(deu para ver qual a sua dinastia)
mas em tempo fixei no firmamento
esta imagem que rebenta em ponta fria:
poesia, esta química perversa,
este arco que desvela e me repõe
nestes tempos de alquimia.
BRITO, A. C. In: HOLLANDA, H. B. (Org.). 26 Poetas Hoje: antologia.
Rio de Janeiro: Aeroplano, 1998.
O poema de Antônio Carlos Brito está historicamente
inserido no período da ditadura militar no Brasil. A forma
encontrada pelo eu lírico para expressar poeticamente
esse momento demonstra que
O bonde abre a viagem,
No banco ninguém,
Estou só, stou sem.
Depois sobe um homem,
No banco sentou,
Companheiro vou.
O bonde está cheio,
De novo porém
Não sou mais ninguém.
ANDRADE, M. Poesias completas. Belo Horizonte: Itatiaia, 2005.
Em um texto literário, é comum que os recursos poéticos e
linguísticos participem do significado do texto, isto é, forma
e conteúdo se relacionam significativamente. Com relação
ao poema de Mário de Andrade, a correlação entre um
recurso formal e um aspecto da significação do texto é
Cegueira
Afastou–me da escola, atrasou–me, enquanto os
filhos de seu José Galvão se internavam em grandes
volumes coloridos, a doença de olhos que me perseguia
na meninice. Torturava–me semanas e semanas, eu vivia
na treva, o rosto oculto num pano escuro, tropeçando
nos móveis, guiando–me às apalpadelas, ao longo das
paredes. As pálpebras inflamadas colavam–se. Para
descerrá–las, eu ficava tempo sem fim mergulhando a
cara na bacia de água, lavando–me vagarosamente, pois
o contato dos dedos era doloroso em excesso. Finda a
operação extensa, o espelho da sala de visitas mostravame
dois bugalhos sangrentos, que se molhavam depressa
e queriam esconder–se. Os objetos surgiam empastados
e brumosos. Voltava a abrigar–me sob o pano escuro,
mas isto não atenuava o padecimento. Qualquer luz me
deslumbrava, feria–me como pontas de agulha [...].
Sem dúvida o meu espectro era desagradável, inspirava
repugnância. E a gente da casa se impacientava. Minha
mãe tinha a franqueza de manifestar–me viva antipatia.
Dava–me dois apelidos: bezerro–encourado e cabra–cega.
RAMOS, G. Infância. Rio de Janeiro: Record, 1984 (fragmento).
O impacto da doença, na infância, revela–se no texto
memorialista de Graciliano Ramos através de uma atitude
marcada por
Uma tuiteratura?
As novidades sobre o Twitter já não cabem em
140 toques. Informações vindas dos EUA dão conta de
que a marca de 100 milhões de adeptos acaba de ser
alcançada e que a biblioteca do Congresso, um dos
principais templos da palavra impressa, vai guardar em
seu arquivo todos os tweets, ou seja, as mensagens
do microblog. No Brasil o fenômeno não chega a tanto,
mas já somos o segundo país com o maior número de
tuiteiros. Também aqui o Twitter está sendo aceito em
territórios antes exclusivos do papel. A própria Academia
Brasileira de Letras abriu um concurso de microcontos
para textos com apenas 140 caracteres. Também se fala
das possibilidades literárias desse meio que se caracteriza
pela concisão. Já há até um neologismo, “tuiteratura",
para indicar os “enunciados telegráficos com criações
originais, citações ou resumos de obras impressas". Por
ora, pergunto como se estivesse tuitando: querer fazer
literatura com palavras de menos não é pretensão demais?
VENTURA, Z. O Globo, 17 abr. 2010 (adaptado).
As novas tecnologias estão presentes na sociedade
moderna, transformando a comunicação por meio de
inovadoras linguagens. O texto de Zuenir Ventura mostra
que o Twitter tem sido acessado por um número cada vez
maior de internautas e já se insere até na literatura. Neste
contexto de inovações linguísticas, a linguagem do Twitter
apresenta como característica relevante