Assinale a alternativa correta quanto ao “romance nordestino”, desenvolvido durante a segunda fase do Modernismo brasileiro.
Assinale a opção em que todas as informações sobre os romancistas da segunda fase do Modernismo brasileiro são corretas.
TEXTO 1 Quem sabe, devido às atividades culinárias da esposa, nesses idílios Vadinho dizia-lhe "Meu manuê de milho verde, meu acarajé cheiroso, minha franguinha gorda", e tais comparações gastronômicas davam justa ideia de certo encanto sensual e caseiro de dona Flor a esconder-se sob uma natureza tranquila e dócil. Vadinho conhecia-lhe as fraquezas e as expunha ao sol, aquela ânsia controlada de tímida, aquele recatado desejo fazendo-se violência e mesmo incontinência ao libertar-se na cama.
AMADO, J. Dona Flor e seus dois maridos. São Paulo: Martins, 1966
TEXTO II As suas mãos trabalham na braguilha das calças do falecido. Dulcineusa me confessou mais tarde: era assim que o marido gostava de começar as intimidades. Um fazer de conta que era outra coisa, a exemplo do gato que distrai o olhar enquanto segura a presa nas patas. Esse o acordo silencioso que tinham: ele chegava em casa e se queixava que tinha um botão a cair. Calada, Dulcineusa se armava dos apetrechos da costura e se posicionava a jeito dos prazeres e dos afazeres. COUTO, M. Um do chamado tempo, uma casa chamada terra. São Paulo: Cia. das Letras, 2002
Tema recorrente na obra de Jorge Amado, a figura feminina aparece, no fragmento, retratada de forma semelhante à que se vê no texto do moçambicano Mia Couto. Nesses dois textos, com relação ao universo feminino em seu contexto doméstico, observa-se que O
TEXTO I
Dois quadros
Na seca inclemente do nosso Nordeste,
O sol é mais quente e o céu mais azul
E o povo se achando sem pão e sem veste,
Viaja à procura das terras do Sul.
De nuvem no espaço, não há um farrapo,
Se acaba a esperança da gente roceira,
Na mesma lagoa da festa do sapo,
Agita–se o vento levando a poeira.
TEXTO II
ABC do Nordeste flagelado
O – Outro tem opinião
de deixar mãe, deixar pai,
porém para o Sul não vai,
procura outra direção.
Vai bater no Maranhão
onde nunca falta inverno;
outro com grande consterno
deixa o casebre e a mobília
e leva a sua família
pra construção do governo.
Disponível em: www.revista.agulha.com.br. Acesso em: 23 abr. 2010 (fragmento).
Os Textos I e II são de autoria do escritor nordestino
Patativa do Assaré, que, em sua obra, retrata de forma
bastante peculiar os problemas de sua região. Esses
textos têm em comum o fato de abordarem
Cegueira
Afastou–me da escola, atrasou–me, enquanto os
filhos de seu José Galvão se internavam em grandes
volumes coloridos, a doença de olhos que me perseguia
na meninice. Torturava–me semanas e semanas, eu vivia
na treva, o rosto oculto num pano escuro, tropeçando
nos móveis, guiando–me às apalpadelas, ao longo das
paredes. As pálpebras inflamadas colavam–se. Para
descerrá–las, eu ficava tempo sem fim mergulhando a
cara na bacia de água, lavando–me vagarosamente, pois
o contato dos dedos era doloroso em excesso. Finda a
operação extensa, o espelho da sala de visitas mostravame
dois bugalhos sangrentos, que se molhavam depressa
e queriam esconder–se. Os objetos surgiam empastados
e brumosos. Voltava a abrigar–me sob o pano escuro,
mas isto não atenuava o padecimento. Qualquer luz me
deslumbrava, feria–me como pontas de agulha [...].
Sem dúvida o meu espectro era desagradável, inspirava
repugnância. E a gente da casa se impacientava. Minha
mãe tinha a franqueza de manifestar–me viva antipatia.
Dava–me dois apelidos: bezerro–encourado e cabra–cega.
RAMOS, G. Infância. Rio de Janeiro: Record, 1984 (fragmento).
O impacto da doença, na infância, revela–se no texto
memorialista de Graciliano Ramos através de uma atitude
marcada por
Sambinha
Vêm duas costureirinhas pela rua das Palmeiras.
Afobadas braços dados depressinha
Bonitas, Senhor! que até dão vontade pros homens da rua.
As costureirinhas vão explorando perigos...
Vestido é de seda.
Roupa–branca é de morim.
Falando conversas fiadas
As duas costureirinhas passam por mim.
— Você vai?
— Não vou não!
Parece que a rua parou pra escutá–las.
Nem trilhos sapecas
Jogam mais bondes um pro outro.
E o Sol da tardinha de abril
Espia entre as pálpebras sapiroquentas de duas nuvens.
As nuvens são vermelhas.
A tardinha cor–de–rosa.
Fiquei querendo bem aquelas duas costureirinhas...
Fizeram–me peito batendo
Tão bonitas, tão modernas, tão brasileiras!
Isto é...
Uma era ítalo–brasileira.
Outra era áfrico–brasileira.
Uma era branca.
Outra era preta.
ANDRADE, M. Os melhores poemas. São Paulo: Global, 1988.
Os poetas do Modernismo, sobretudo em sua primeira
fase, procuraram incorporar a oralidade ao fazer poético,
como parte de seu projeto de configuração de uma
identidade linguística e nacional. No poema de Mário de
Andrade esse projeto revela–se, pois
A verdade é que não me preocupo muito com o
outro mundo. Admito Deus, pagador celeste dos meus
trabalhadores, mal remunerados cá na terra, e admito o
diabo, futuro carrasco do ladrão que me furtou uma vaca
de raça. Tenho, portanto, um pouco de religião, embora
julgue que, em parte, ela é dispensável a um homem. Mas
mulher sem religião é horrível.
Comunista, materialista. Bonito casamento!
Amizade com o Padilha, aquele imbecil. “Palestras amenas
e variadas". Que haveria nas palestras? Reformas sociais,
ou coisa pior. Sei lá! Mulher sem religião é capaz de tudo.
RAMOS, Graciliano. São Bernardo. Rio de Janeiro: Record, 1981, p. 131
Uma das características da prosa de Graciliano Ramos é
ser bastante direta e enxuta. No romance São Bernardo, o
autor faz a análise psicológica de personagens e expõe
desigualdades sociais com base na relação entre patrão e
empregado, além da relação conjugal. Nesse sentido, o
texto revela
Linhas tortas
Há uma literatura antipática e insincera que só usa
expressões corretas, só se ocupa de coisas agradáveis,
não se molha em dias de inverno e por isso ignora que há
pessoas que não podem comprar capas de borracha.
Quando a chuva aparece, essa literatura fica em casa,
bem aquecida, com as portas fechadas. [...] Acha que tudo
está direito, que o Brasil é um mundo e que somos felizes.
[...] Ora, não é verdade que tudo vá tão bem [...]. Nos
algodoais e nos canaviais do Nordeste, nas plantações de
cacau e de café, nas cidadezinhas decadentes do interior,
nas fábricas, nas casas de cômodos, nos prostíbulos, há
milhões de criaturas que andam aperreadas.
[...]
Os escritores atuais foram estudar o subúrbio, a fábrica, o
engenho, a prisão da roça, o colégio do professor
mambembe.
Para isso resignaram–se a abandonar o asfalto e o café,
[...] tiveram a coragem de falar errado como toda gente,
sem dicionário, sem gramáticas, sem manual de retórica.
Ouviram gritos, palavrões e meteram tudo nos livros que
escreveram.
RAMOS, Graciliano. Linhas tortas. 8.ª ed. São Paulo: Record, 1980, p. 92/3.
O ponto de vista defendido por Graciliano Ramos
A velha Totonha de quando em vez batia no engenho.
E era um acontecimento para a meninada... Que talento ela
possuía para contar as suas histórias, com um jeito admirável
de falar em nome de todos os personagens, sem nenhum dente
na boca, e com uma voz que dava todos os tons às palavras!
Havia sempre rei e rainha, nos seus contos, e forca e
adivinhações. E muito da vida, com as suas maldades e as suas
grandezas, a gente encontrava naqueles heróis e naqueles
intrigantes, que eram sempre castigados com mortes horríveis!
O que fazia a velha Totonha mais curiosa era a cor local que ela
punha nos seus descritivos. Quando ela queria pintar um reino
era como se estivesse falando dum engenho fabuloso. Os rios e
florestas por onde andavam os seus personagens se pareciam
muito com a Paraíba e a Mata do Rolo. O seu Barba-Azul era
um senhor de engenho de Pernambuco.
José Lins do Rego. Menino de Engenho. Rio de Janeiro:
José Olympio, 1980, p. 49-51 (com adaptações).
Na construção da personagem “velha Totonha", é possível
identificar traços que revelam marcas do processo de
colonização e de civilização do país. Considerando o texto
acima, infere-se que a velha Totonha
A partir do trecho de Vidas Secas (texto I) e das
informações do texto II, relativas às concepções artísticas
do romance social de 1930, avalie as seguintes
afirmativas.
I O pobre, antes tratado de forma exótica e folclórica pelo
regionalismo pitoresco, transforma-se em protagonista
privilegiado do romance social de 30
II A incorporação do pobre e de outros marginalizados
indica a tendência da ficção brasileira da década de 30
de tentar superar a grande distância entre o intelectual e
as camadas populares.
III Graciliano Ramos e os demais autores da década de 30
conseguiram, com suas obras, modificar a posição
social do sertanejo na realidade nacional.
É correto apenas o que se afirma em
No poema Procura da poesia, Carlos Drummond de
Andrade expressa a concepção estética de se fazer com
palavras o que o escultor Michelângelo fazia com
mármore. O fragmento abaixo exemplifica essa afirmação.
(...)
Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
(...)
Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
trouxeste a chave?
Carlos Drummond de Andrade. A rosa do povo.
Rio de Janeiro: Record, 1997, p. 13-14
Esse fragmento poético ilustra o seguinte tema
constante entre autores modernistas:
Explorando a função emotiva da linguagem, o poeta expressa o contraste entre marcas de variação de usos da linguagem em
No trecho “Montes Claros cresceu tanto,/ (...),/ quejá tem cinco favelas", a palavra que contribui para estabelecer uma relação
de conseqüência. Dos seguintes versos, todos de Carlos Drummond de Andrade, apresentam esse mesmo tipo de relação: