Texto 1A1-II
Como é possível que hoje, amanhã ou depois tornem a
falar em crise ministerial, venho sugerir aos meus amigos um
pequeno obséquio. Refiro-me à inclusão de meu nome nas listas
de ministérios, que é de costume publicar anonimamente, com
endereço ao imperador.
Há de parecer esquisito que eu, até aqui pacato, solicite
uma fineza destas que trescala a pura ambição. Explico-me com
duas palavras e deixo de lado outras duas que também podiam ter
muito valor, mas que não são a causa do meu pedido. (...)
A primeira coisa é toda subjetiva; é para ter o gosto de
reter o meu nome impresso, entre outros seis, para ministro de
Estado. Ministro de quê? De qualquer coisa: contanto que o meu
nome figure, importa pouco a designação. Ainda que fosse de
verdade, eu não faria questão de pastas, quanto mais não sendo.
Quero só o gosto; é só para ler de manhã, sete ou oito vezes, e
andar com a folha no bolso, tirá-la de quando em quando, e ler
para mim. E saborear comigo o prazer de ver o meu nome
designado para governar.
Agora a segunda coisa, que é menos recôndita. Tenho
alguns parentes, vizinhos e amigos, uns na corte e outros no
interior, e desejava que eles lessem o meu nome nas listas
ministeriais, pela importância que isto me daria. Creia o leitor
que só a presença do nome na lista me faria muito bem. Faz-se
sempre bom juízo de um homem lembrado, em papéis públicos,
para ocupar um lugar nos conselhos da coroa, e a influência da
gente cresce. Eu, por exemplo, que nunca alcancei dar certa
expressão ao meu estilo, pode ser que a tivesse daí em diante;
expressão no estilo e olhos azuis na casa. Tudo isso por uma lista
anônima, assinada — Um brasileiro ou A Pátria.
(...)
Eia. Venha de lá esse obséquio! Que diabo, custa pouco e
rende muito! Porque a gratidão de um coração honesto é moeda
preciosíssima. Mas pode render ainda mais. Sim, suponhamos,
não digo que aconteça assim mesmo; mas suponhamos que o
imperador, ao ler o meu nome, diga consigo que bem podia
experimentar os meus talentos políticos e administrativos e
inclua o meu nome no novo gabinete. Pelo amor de Deus, não me
atribuam a afirmação de um tal caso; digo só que pode acontecer.
E pergunto, dado que assim seja, se não é melhor ter no
ministério um amigo, antes do que um inimigo ou um
indiferente?
Não cobiço tanto, contento-me com ser lembrado. Terei
sido ministro relativamente.
Machado de Assis. Balas de estalo. In: Crônicas escolhidas de Machado de Assis.
Coleção Folha Não Dá pra Não Ler. São Paulo: Ática, 1994, p. 60-62 (com adaptações).
No início do quarto parágrafo do texto 1A1-II, o vocábulo “recôndita” tem o mesmo sentido de
Texto 1A1-II
Como é possível que hoje, amanhã ou depois tornem a
falar em crise ministerial, venho sugerir aos meus amigos um
pequeno obséquio. Refiro-me à inclusão de meu nome nas listas
de ministérios, que é de costume publicar anonimamente, com
endereço ao imperador.
Há de parecer esquisito que eu, até aqui pacato, solicite
uma fineza destas que trescala a pura ambição. Explico-me com
duas palavras e deixo de lado outras duas que também podiam ter
muito valor, mas que não são a causa do meu pedido. (...)
A primeira coisa é toda subjetiva; é para ter o gosto de
reter o meu nome impresso, entre outros seis, para ministro de
Estado. Ministro de quê? De qualquer coisa: contanto que o meu
nome figure, importa pouco a designação. Ainda que fosse de
verdade, eu não faria questão de pastas, quanto mais não sendo.
Quero só o gosto; é só para ler de manhã, sete ou oito vezes, e
andar com a folha no bolso, tirá-la de quando em quando, e ler
para mim. E saborear comigo o prazer de ver o meu nome
designado para governar.
Agora a segunda coisa, que é menos recôndita. Tenho
alguns parentes, vizinhos e amigos, uns na corte e outros no
interior, e desejava que eles lessem o meu nome nas listas
ministeriais, pela importância que isto me daria. Creia o leitor
que só a presença do nome na lista me faria muito bem. Faz-se
sempre bom juízo de um homem lembrado, em papéis públicos,
para ocupar um lugar nos conselhos da coroa, e a influência da
gente cresce. Eu, por exemplo, que nunca alcancei dar certa
expressão ao meu estilo, pode ser que a tivesse daí em diante;
expressão no estilo e olhos azuis na casa. Tudo isso por uma lista
anônima, assinada — Um brasileiro ou A Pátria.
(...)
Eia. Venha de lá esse obséquio! Que diabo, custa pouco e
rende muito! Porque a gratidão de um coração honesto é moeda
preciosíssima. Mas pode render ainda mais. Sim, suponhamos,
não digo que aconteça assim mesmo; mas suponhamos que o
imperador, ao ler o meu nome, diga consigo que bem podia
experimentar os meus talentos políticos e administrativos e
inclua o meu nome no novo gabinete. Pelo amor de Deus, não me
atribuam a afirmação de um tal caso; digo só que pode acontecer.
E pergunto, dado que assim seja, se não é melhor ter no
ministério um amigo, antes do que um inimigo ou um
indiferente?
Não cobiço tanto, contento-me com ser lembrado. Terei
sido ministro relativamente.
Machado de Assis. Balas de estalo. In: Crônicas escolhidas de Machado de Assis.
Coleção Folha Não Dá pra Não Ler. São Paulo: Ática, 1994, p. 60-62 (com adaptações).
É correto concluir do texto 1A1-II que o cronista
Text 1A2-I
Languages are more to us than systems of thought
transference. They are invisible garments that drape themselves
about our spirit and give a predetermined form to all its symbolic
expression. When the expression is of unusual significance, we
call it literature. Art is so personal an expression that we do not
like to feel that it is bound to predetermined form of any sort.
The possibilities of individual expression are infinite, language in
particular is the most fluid of mediums. Yet some limitation there
must be to this freedom, some resistance of the medium.
In great art there is the illusion of absolute freedom. The
formal restraints imposed by the material are not perceived; it is
as though there were a limitless margin of elbow room between
the artist’s fullest utilization of form and the most that the
material is innately capable of. The artist has intuitively
surrendered to the inescapable tyranny of the material, made its
brute nature fuse easily with his conception. The material
“disappears” precisely because there is nothing in the artist’s
conception to indicate that any other material exists. For the time
being, he, and we with him, move in the artistic medium as a fish
moves in the water, oblivious of the existence of an alien
atmosphere. No sooner, however, does the artist transgress the
law of his medium than we realize with a start that there is a
medium to obey.
Language is the medium of literature as marble or bronze
or clay are the materials of the sculptor. Since every language has
its distinctive peculiarities, the innate formal limitations—and
possibilities—of one literature are never quite the same as those
of another. The literature fashioned out of the form and substance
of a language has the color and the texture of its matrix. The
literary artist may never be conscious of just how he is hindered
or helped or otherwise guided by the matrix, but when it is a
question of translating his work into another language, the nature
of the original matrix manifests itself at once. All his effects have
been calculated, or intuitively felt, with reference to the formal
“genius” of his own language; they cannot be carried over
without loss or modification. Croce is therefore perfectly right in
saying that a work of literary art can never be translated.
Nevertheless, literature does get itself translated, sometimes with
astonishing adequacy.
Edward Sapir. Language: an introduction to the study of speech. 1921 (adapted).
The word “oblivious”, in the fragment “oblivious of the existence of an alien atmosphere” (fifth sentence of the second paragraph) is being used, in text 1A2-I, with the same meaning as
Considere-se que uma equipe policial foi a primeira a
chegar a um local de homicídio onde o cadáver e os demais
vestígios ainda se encontravam, situado em via pública, próximo
a uma área de imenso matagal.
A partir dessa situação hipotética e considerando aspectos
suscitados pelo tema, julgue os próximos itens.
Após a demarcação e o isolamento do local, a equipe policial
deverá permanecer no interior do perímetro demarcado como
local imediato, para preservá-lo, até a chegada dos peritos.
Tendo em vista que as lesões corporais estão compreendidas nos
dispositivos dos crimes contra a pessoa, julgue os próximos itens.
Fratura óssea durante um jogo por parte de um jogador
caracteriza-se como lesão contusa.
Considerando os princípios do direito penal e as disposições
referentes à aplicação da lei penal no tempo e no espaço, julgue
os itens a seguir.
Para efeitos penais, consideram-se como extensão do
território nacional as aeronaves e as embarcações brasileiras,
mercantes ou de propriedade privada, que se achem,
respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou
em alto-mar
Em relação à contagem de prazos no direito penal, julgue o
próximo item.
O cômputo do prazo do direito penal é suspenso em feriados
nacionais e durante o recesso forense.
Considere-se que uma equipe policial tenha comparecido
a uma ocorrência de furto de residência por meio do rompimento
de uma das portas com um pé de cabra, que foi abandonado no
local e devidamente apreendido, e que, em entrevista ao
proprietário da residência, tenha constatado a subtração de um
veículo automotor, algumas joias de família e vários
equipamentos de informática. Além disso, fora encontrado um
bilhete manuscrito por um dos autores com ameaças à família,
caso essa acionasse a polícia.
Levando-se em conta a situação hipotética em análise, com base
nas disposições referentes ao exame de corpo de delito e às outras
perícias previstas no Código de Processo Penal, julgue os itens
seguintes.
Se os suspeitos forem conhecidos, o exame para o
reconhecimento dos escritos no bilhete encontrado poderá
ser realizado por meio de comparação com quaisquer outros
escritos sobre cuja autenticidade não houver dúvida ou se já
tiverem sido judicialmente reconhecidos como de próprio
punho dos prováveis autores do delito.
Acerca da prova no processo penal, julgue os itens subsequentes.
Independem de prova os fatos incontroversos apresentados por uma das partes e não refutados ou impugnados pela parte contrária.
Acerca do habeas corpus e das disposições constitucionais
aplicáveis ao direito processual penal, julgue os itens
que se seguem
O habeas corpus não constitui via própria para impugnar
decreto de governador de Estado sobre adoção de medidas
acerca da apresentação do comprovante de vacinação contra
a covid-19 para que as pessoas possam circular e permanecer
em locais públicos e privados.
A proposição lógica (P ⇒ Q) ⇔ ((∿P) ˅ Q) é uma tautologia.
O acesso a saneamento básico no Brasil ainda não é
realidade para todos. Embora seja necessidade básica da
população, ainda há uma diferença regional muito grande em
relação ao acesso a esses serviços no país. Enquanto alguns locais
tiveram grandes avanços, outros seguem estacionados — e há
quem diga que vivemos ainda no século XIX quando o assunto
é saneamento.
Internet: <https://blog.brkambiental.com.br> (com adaptações).
Considerando o texto precedente, julgue os próximos itens.
A legislação atual estabelece normas nacionais para serviços
de saneamento básico no país, pautando-se pela integralidade
e a universalidade: a primeira se refere a acesso, eficiência e
resultados; e a segunda, a todos os cidadãos terem direito a
serviços de saneamento básico.
Em relação às normas constitucionais e aos direitos e garantias
fundamentais, julgue os itens seguintes.
Parte das normas constitucionais não possui eficácia jurídica,
porque depende de decisões políticas futuras
Acerca da prova no processo penal, julgue os itens subsequentes.
Caracteriza prova testemunhal a oitiva do ofendido perante a
autoridade judiciária, em depoimento prestado oralmente.
A respeito dos sujeitos processuais, julgue os itens subsequentes.
Não é possível que o corréu, no mesmo processo, intervenha
como assistente do Ministério Público.