A verdade é que não me preocupo muito com o
outro mundo. Admito Deus, pagador celeste dos meus
trabalhadores, mal remunerados cá na terra, e admito o
diabo, futuro carrasco do ladrão que me furtou uma vaca
de raça. Tenho, portanto, um pouco de religião, embora
julgue que, em parte, ela é dispensável a um homem. Mas
mulher sem religião é horrível.
Comunista, materialista. Bonito casamento!
Amizade com o Padilha, aquele imbecil. “Palestras amenas
e variadas". Que haveria nas palestras? Reformas sociais,
ou coisa pior. Sei lá! Mulher sem religião é capaz de tudo.
RAMOS, Graciliano. São Bernardo. Rio de Janeiro: Record, 1981, p. 131
Uma das características da prosa de Graciliano Ramos é
ser bastante direta e enxuta. No romance São Bernardo, o
autor faz a análise psicológica de personagens e expõe
desigualdades sociais com base na relação entre patrão e
empregado, além da relação conjugal. Nesse sentido, o
texto revela