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Milhares de questões atuais de concursos.

Linhas tortas



Há uma literatura antipática e insincera que só usa

expressões corretas, só se ocupa de coisas agradáveis,

não se molha em dias de inverno e por isso ignora que há

pessoas que não podem comprar capas de borracha.

Quando a chuva aparece, essa literatura fica em casa,

bem aquecida, com as portas fechadas. [...] Acha que tudo

está direito, que o Brasil é um mundo e que somos felizes.

[...] Ora, não é verdade que tudo vá tão bem [...]. Nos

algodoais e nos canaviais do Nordeste, nas plantações de

cacau e de café, nas cidadezinhas decadentes do interior,

nas fábricas, nas casas de cômodos, nos prostíbulos, há

milhões de criaturas que andam aperreadas.



[...]

Os escritores atuais foram estudar o subúrbio, a fábrica, o

engenho, a prisão da roça, o colégio do professor

mambembe.



Para isso resignaram–se a abandonar o asfalto e o café,

[...] tiveram a coragem de falar errado como toda gente,

sem dicionário, sem gramáticas, sem manual de retórica.

Ouviram gritos, palavrões e meteram tudo nos livros que

escreveram.

RAMOS, Graciliano. Linhas tortas. 8.ª ed. São Paulo: Record, 1980, p. 92/3.



O ponto de vista defendido por Graciliano Ramos

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