Do amor à pátria
São doces os caminhos que levam de volta à pátria.
Não à pátria amada de verdes mares bravios, a mirar em
berço esplêndido o esplendor do Cruzeiro do Sul; mas a
uma outra mais íntima, pacífica e habitual - uma cuja
terra se comeu em criança, uma onde se foi menino
ansioso por crescer, uma onde se cresceu em sofrimentos
e esperanças plantando canções, amores e filhos ao
sabor das estações.
MORAES, V. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1987
O nacionalismo constitui tema recorrente na literatura
romântica e na modernista. No trecho, a representação
da pátria ganha contornos peculiares porque
Em relação ao poema acima apresentado e aos períodos iniciais da história da literatura brasileira, julgue os próximos itens.
Nesse poema, o eu-lírico oscila contraditoriamente ao avaliar os próprios sentimentos, mostrando-se ora forte e resistente, ora fraco e vacilante.
Iracema
Capítulo 2
Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema. Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira. O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado. Mais rápida que a corça selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande nação tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas. Um dia, ao pino do Sol, ela repousava em um claro da floresta. Banhava-lhe o corpo a sombra da oiticica, mais fresca do que o orvalho da noite. Os ramos da acácia silvestre esparziam flores sobre os úmidos cabelos. Escondidos na folhagem os pássaros ameigavam o canto. Iracema saiu do banho: o aljôfar d'água ainda a roreja, como à doce mangaba que corou em manhã de chuva. Enquanto repousa, empluma das penas do gará as flechas de seu arco, e concerta com o sabiá da mata, pousado no galho próximo, o canto agreste. A graciosa ará, sua companheira e amiga, brinca junto dela. Às vezes sobe aos ramos da árvore e de lá chama a virgem pelo nome; outras remexe o uru de palha matizada, onde traz a selvagem seus perfumes, os alvos fios do crautá, as agulhas da juçara com que tece a renda, e as tintas de que matiza o algodão. Rumor suspeito quebra a doce harmonia da sesta. Ergue a virgem os olhos, que o sol não deslumbra; sua vista perturba-se. Diante dela e todo a contemplá-la está um guerreiro estranho, se é guerreiro e não algum mau espírito da floresta. Tem nas faces o branco das areias que bordam o mar; nos olhos o azul triste das águas profundas. Ignotas armas e tecidos ignotos cobrem-lhe o corpo. Foi rápido, como o olhar, o gesto de Iracema. A flecha embebida no arco partiu. Gotas de sangue borbulham na face do desconhecido. De primeiro ímpeto, a mão lesta caiu sobre a cruz da espada; mas logo sorriu. O moço guerreiro aprendeu na religião de sua mãe, onde a mulher é símbolo de ternura e amor. Sofreu mais d'alma que da ferida. O sentimento que ele pôs nos olhos e no rosto, não o sei eu. Porém a virgem lançou de si o arco e a uiraçaba, e correu para o guerreiro, sentida da mágoa que causara. A mão que rápida ferira, estancou mais rápida e compassiva o sangue que gotejava. Depois Iracema quebrou a flecha homicida: deu a haste ao desconhecido, guardando consigo a ponta farpada. O guerreiro falou: — Quebras comigo a flecha da paz? — Quem te ensinou, guerreiro branco, a linguagem de meus irmãos? Donde vieste a estas matas, que nunca viram outro guerreiro como tu? — Venho de bem longe, filha das florestas. Venho das terras que teus irmãos já possuíram, e hoje têm os meus. — Bem-vindo seja o estrangeiro aos campos dos tabajaras, senhores das aldeias, e à cabana de Araquém, pai de Iracema.
José de Alencar. Iracema. Brasília: Ministério da Cultura. Fundação Nacional do Livro. Internet:
Considerando esse fragmento do romance Iracema, de José de Alencar, julgue os itens a seguir, referentes ao movimento romântico e ao indianismo no Brasil.
O indianismo romântico brasileiro, do qual o romance Iracema, faz parte, configurou-se como um movimento de resgate das tradições literárias dos povos autóctones e de consequente rejeição das tradições literárias europeias.
TEXTO I
Poema de sete faces
Mundo mundo vasto mundo,
Se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.
ANDRADE, C. D. Antologia poética. Rio de Janeiro: Record, 2001 (fragmento).
TEXTO II
CDA (imitado)
Ó vida, triste vida!
Se eu me chamasse Aparecida
dava na mesma.
FONTELA, O. Poesia reunida. São Paulo: Cosac Naify; Rio de Janeiro: 7Letras, 2006.
Orides Fontela intitula seu poema CDA, sigla de Carlos
Drummond de Andrade, e entre parênteses indica
“imitado" porque, como nos versos de Drummond,
Seca d'água
É triste para o Nordeste
o que a natureza fez
mandou 5 anos de seca
uma chuva em cada mês
e agora, em 85
mandou tudo de vez.
A sorte do nordestino
é mesmo de fazer dó
seca sem chuva é ruim
mas seca d'água é pior.
Quando chove brandamente
depressa nasce o capim
dá milho, arroz, feijão
mandioca e amendoim
mas como em 85
até o sapo achou ruim.
[...]
Meus senhores governantes
da nossa grande nação
o flagelo das enchentes
é de cortar o coração
muitas famílias vivendo
sem lar, sem roupa e sem pão.
ASSARÉ, Patativa do. Digo e não peço segredo. São Paulo: Escritura, 2001, p. 117–118.
Esse é um fragmento do poema Seca d'água, do poeta
popular Patativa do Assaré. Nesse fragmento, a relação
entre o texto poético e o contexto social se verifica
Eu começaria dizendo que poesia é uma questão de linguagem. A importância do poeta é que ele torna mais viva a
linguagem. Carlos Drummond de Andrade escreveu um dos mais belos versos da língua portuguesa com duas
palavras comuns: cão e cheirando.
Um cão cheirando o futuro
(Entrevista com Mário Carvalho. Folha de SP, 24/05/1988. adaptação)
O que deu ao verso de Drummond o caráter de inovador da língua foi
A palavra mesmo pode assumir diferentes significados, de acordo com a sua função na frase. Assinale a alternativa em que o
sentido de mesmo equivale ao que se verifica no 3º. verso da 1ª. estrofe do poema de Vinícius de Moraes.