Texto 4
Jogos florais I
Minha terra tem palmeiras
onde canta o tico-tico.
Enquanto isso o sabiá
vive comendo o meu fubá.
Ficou moderno o Brasil
ficou moderno o milagre:
a água já não vira vinho,
vira direto vinagre.
Jogos florais II
Minha terra tem Palmares
memória cala-te já.
Peço licença poética
Belém capital Pará.
Bem, meus prezados senhores
dado o avançado da hora
errata e efeitos do vinho
o poeta sai de fininho.
(será mesmo com dois esses
que se escreve paçarinho?)
(CACASO, Antônio Carlos de Brito. IN HOLLANDA,
Heloísa Buarque de. (org.). 26 poetas hoje. Rio de
Janeiro: Labor, 1976, p. 35.)
A característica que marca o gênero literário predominante no texto 4 é:
Texto 4
Jogos florais I
Minha terra tem palmeiras
onde canta o tico-tico.
Enquanto isso o sabiá
vive comendo o meu fubá.
Ficou moderno o Brasil
ficou moderno o milagre:
a água já não vira vinho,
vira direto vinagre.
Jogos florais II
Minha terra tem Palmares
memória cala-te já.
Peço licença poética
Belém capital Pará.
Bem, meus prezados senhores
dado o avançado da hora
errata e efeitos do vinho
o poeta sai de fininho.
(será mesmo com dois esses
que se escreve paçarinho?)
(CACASO, Antônio Carlos de Brito. IN HOLLANDA,
Heloísa Buarque de. (org.). 26 poetas hoje. Rio de
Janeiro: Labor, 1976, p. 35.)
A presença do humor e da crítica no poema de Cacaso tem como recurso estilístico o seguinte dispositivo:
Texto 5
Pneumotórax
Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.
Mandou chamar o médico:
- Diga trinta e três.
- Trinta e três... trinta e três... trinta e três...
- Respire.
..................................................
- O senhor tem uma escavação no pulmão
esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
- O s
- Então, doutor, não é possível tentar o
pneumotórax?
- Não. A única coisa a fazer é tocar um tango
argentino.
(BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira. Rio de
Janeiro: José Olympio, 1973, p.107.)
“A própria ideia de livro e literatura perde
parte de seu sentido quando nos deparamos com
novas estratégias narrativas em bases digitais, que
atuam na confluência de várias artes e mídias. O
aspecto inovador não está restrito apenas à
tecnologia de leitura dos tablets, nos chamados
>ita
Texto 1
Algum tempo hesitei se devia abrir estas
memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria
em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha
morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo
nascimento, duas considerações me levaram a
adotar diferente método: a primeira é que eu não
sou propriamente um autor defunto, mas um
defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a
segunda é que o escrito ficaria assim mais galante
e mais novo. Moisés, que também contou a sua
morte, não a pôs no introito, mas no cabo: diferença
radical entre este livro e o Pentateuco.
Dito isto, expirei às duas horas da tarde de
uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, na
minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns
sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era
solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui
acompanhado ao cemitério por onze amigos. Onze
amigos! Verdade é que não houve cartas nem
anúncios. Acresce que chovia – peneirava – uma
chuvinha miúda, triste e constante, tão constante e
tão triste, que levou um daqueles fiéis da última
hora a intercalar esta engenhosa ideia no discurso
que proferiu à beira de minha cova: – “Vós, que o
conhecestes, meus senhores, vós podeis dizer
comigo que a natureza parece estar chorando a
perda irreparável de um dos mais belos caracteres
que têm honrado a humanidade. Este ar sombrio,
estas gotas do céu, aquelas nuvens escuras que
cobrem o azul como um crepe funéreo, tudo isso é
a dor crua e má que lhe rói à natureza as mais
íntimas entranhas; tudo isso é um sublime louvor ao
nosso ilustre finado".
(ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás
Cubas. Rio de Janeiro: Companhia José Aguilar Editora,
1971, volume I, p. 513-514.)
Texto 2
Resolvo-me a contar, depois de muita
hesitação, casos passados há dez anos – e, antes
de começar, digo os motivos por que silenciei e por
que me decido. Não conservo notas: algumas que
tomei foram inutilizadas, e assim, com o decorrer do
tempo, ia-me parecendo cada vez mais difícil,
quase impossível, redigir esta narrativa. Além disso,
julgando a matéria superior às minhas forças,
esperei que outros mais aptos se ocupassem dela.
Não vai aqui falsa modéstia, como adiante se verá.
Também me afligiu a ideia de jogar no papel
criaturas vivas, sem disfarces, com os nomes que
têm no registro civil. Repugnava-me deformá-las,
dar-lhes pseudônimo, fazer do livro uma espécie de
romance; mas teria eu o direito de utilizá-las em
história presumivelmente verdadeira? Que diriam
elas se se vissem impressas, realizando atos
esquecidos, repetindo palavras contestáveis e
obliteradas?
(...) Certos escritores se desculpam de não
haverem forjado coisas excelentes por falta de
liberdade − talvez ingênuo recurso de justificar
inépcia ou preguiça. Liberdade completa ninguém
desfruta: começamos oprimidos pela sintaxe e
acabamos às voltas com a Delegacia de Ordem
Política e Social, mas, nos estreitos limites a que
nos coagem a gramática e a lei, ainda nos podemos
mexer.
(RAMOS, Graciliano. Memórias do cárcere. São Paulo:
Record, 1996, volume I, p. 33-34.)
Estão presentes no texto de Machado de Assis os seguintes aspectos:
Texto 3
Uma vez determinado e conhecido o fim, o
gênero se apresenta naturalmente. Até aqui,
como só se procurava fazer uma obra segundo a
Arte, imitar era o meio indicado: fingida era a
inspiração, e artificial o entusiasmo.
Desprezavam os poetas a consideração se a
Mitologia podia, ou não, influir sobre nós.
Contanto que dissessem que as Musas do
Hélicon os inspiravam, que Febo guiava seu
carro puxado pela quadriga, que a Aurora abria
as portas do Oriente com seus dedos de rosas,
e outras tais e quejandas imagens tão usadas,
cuidavam que tudo tinham feito, e que com
Homero emparelhavam; como se pudesse
parecer belo quem achasse algum velho manto
grego, e com ele se cobrisse! Antigos e safados
ornamentos, de que todos se servem, a ninguém
honram.
(GONÇALVES DE MAGALHÃES. “Suspiros poéticos e
saudades" In CANDIDO, Antônio e CASTELLO, J.
Aderaldo. Presença da literatura brasileira. Das origens
ao Romantismo. São Paulo: DIFEL, 1976, p. 219.)
O fragmento escolhido do prefácio de Suspiros poéticos e saudades contém uma crítica à escola:
Texto 5
Pneumotórax
Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.
Mandou chamar o médico:
- Diga trinta e três.
- Trinta e três... trinta e três... trinta e três...
- Respire.
..................................................
- O senhor tem uma escavação no pulmão
esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
- O s
- Então, doutor, não é possível tentar o
pneumotórax?
- Não. A única coisa a fazer é tocar um tango
argentino.
(BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira. Rio de
Janeiro: José Olympio, 1973, p.107.)
As características que melhor definem a poesia brasileira contemporânea são:
Texto 1
Algum tempo hesitei se devia abrir estas
memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria
em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha
morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo
nascimento, duas considerações me levaram a
adotar diferente método: a primeira é que eu não
sou propriamente um autor defunto, mas um
defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a
segunda é que o escrito ficaria assim mais galante
e mais novo. Moisés, que também contou a sua
morte, não a pôs no introito, mas no cabo: diferença
radical entre este livro e o Pentateuco.
Dito isto, expirei às duas horas da tarde de
uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, na
minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns
sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era
solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui
acompanhado ao cemitério por onze amigos. Onze
amigos! Verdade é que não houve cartas nem
anúncios. Acresce que chovia – peneirava – uma
chuvinha miúda, triste e constante, tão constante e
tão triste, que levou um daqueles fiéis da última
hora a intercalar esta engenhosa ideia no discurso
que proferiu à beira de minha cova: – “Vós, que o
conhecestes, meus senhores, vós podeis dizer
comigo que a natureza parece estar chorando a
perda irreparável de um dos mais belos caracteres
que têm honrado a humanidade. Este ar sombrio,
estas gotas do céu, aquelas nuvens escuras que
cobrem o azul como um crepe funéreo, tudo isso é
a dor crua e má que lhe rói à natureza as mais
íntimas entranhas; tudo isso é um sublime louvor ao
nosso ilustre finado".
(ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás
Cubas. Rio de Janeiro: Companhia José Aguilar Editora,
1971, volume I, p. 513-514.)
Texto 2
Resolvo-me a contar, depois de muita
hesitação, casos passados há dez anos – e, antes
de começar, digo os motivos por que silenciei e por
que me decido. Não conservo notas: algumas que
tomei foram inutilizadas, e assim, com o decorrer do
tempo, ia-me parecendo cada vez mais difícil,
quase impossível, redigir esta narrativa. Além disso,
julgando a matéria superior às minhas forças,
esperei que outros mais aptos se ocupassem dela.
Não vai aqui falsa modéstia, como adiante se verá.
Também me afligiu a ideia de jogar no papel
criaturas vivas, sem disfarces, com os nomes que
têm no registro civil. Repugnava-me deformá-las,
dar-lhes pseudônimo, fazer do livro uma espécie de
romance; mas teria eu o direito de utilizá-las em
história presumivelmente verdadeira? Que diriam
elas se se vissem impressas, realizando atos
esquecidos, repetindo palavras contestáveis e
obliteradas?
(...) Certos escritores se desculpam de não
haverem forjado coisas excelentes por falta de
liberdade − talvez ingênuo recurso de justificar
inépcia ou preguiça. Liberdade completa ninguém
desfruta: começamos oprimidos pela sintaxe e
acabamos às voltas com a Delegacia de Ordem
Política e Social, mas, nos estreitos limites a que
nos coagem a gramática e a lei, ainda nos podemos
mexer.
(RAMOS, Graciliano. Memórias do cárcere. São Paulo:
Record, 1996, volume I, p. 33-34.)
Observe as afirmativas a seguir, em relação à leitura comparativa dos textos de Machado de Assis e Graciliano Ramos. I Ambos exploram a metalinguagem, ou seja, refletem sobre o próprio ato de escrever. II A narrativa machadiana subverte a lógica da verossimilhança narrativa. III O texto de Graciliano Ramos privilegia a memória individual como única fonte de criação. Das afirmativas acima:
Texto 1
Algum tempo hesitei se devia abrir estas
memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria
em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha
morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo
nascimento, duas considerações me levaram a
adotar diferente método: a primeira é que eu não
sou propriamente um autor defunto, mas um
defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a
segunda é que o escrito ficaria assim mais galante
e mais novo. Moisés, que também contou a sua
morte, não a pôs no introito, mas no cabo: diferença
radical entre este livro e o Pentateuco.
Dito isto, expirei às duas horas da tarde de
uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, na
minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns
sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era
solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui
acompanhado ao cemitério por onze amigos. Onze
amigos! Verdade é que não houve cartas nem
anúncios. Acresce que chovia – peneirava – uma
chuvinha miúda, triste e constante, tão constante e
tão triste, que levou um daqueles fiéis da última
hora a intercalar esta engenhosa ideia no discurso
que proferiu à beira de minha cova: – “Vós, que o
conhecestes, meus senhores, vós podeis dizer
comigo que a natureza parece estar chorando a
perda irreparável de um dos mais belos caracteres
que têm honrado a humanidade. Este ar sombrio,
estas gotas do céu, aquelas nuvens escuras que
cobrem o azul como um crepe funéreo, tudo isso é
a dor crua e má que lhe rói à natureza as mais
íntimas entranhas; tudo isso é um sublime louvor ao
nosso ilustre finado".
(ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás
Cubas. Rio de Janeiro: Companhia José Aguilar Editora,
1971, volume I, p. 513-514.)
Texto 2
Resolvo-me a contar, depois de muita
hesitação, casos passados há dez anos – e, antes
de começar, digo os motivos por que silenciei e por
que me decido. Não conservo notas: algumas que
tomei foram inutilizadas, e assim, com o decorrer do
tempo, ia-me parecendo cada vez mais difícil,
quase impossível, redigir esta narrativa. Além disso,
julgando a matéria superior às minhas forças,
esperei que outros mais aptos se ocupassem dela.
Não vai aqui falsa modéstia, como adiante se verá.
Também me afligiu a ideia de jogar no papel
criaturas vivas, sem disfarces, com os nomes que
têm no registro civil. Repugnava-me deformá-las,
dar-lhes pseudônimo, fazer do livro uma espécie de
romance; mas teria eu o direito de utilizá-las em
história presumivelmente verdadeira? Que diriam
elas se se vissem impressas, realizando atos
esquecidos, repetindo palavras contestáveis e
obliteradas?
(...) Certos escritores se desculpam de não
haverem forjado coisas excelentes por falta de
liberdade − talvez ingênuo recurso de justificar
inépcia ou preguiça. Liberdade completa ninguém
desfruta: começamos oprimidos pela sintaxe e
acabamos às voltas com a Delegacia de Ordem
Política e Social, mas, nos estreitos limites a que
nos coagem a gramática e a lei, ainda nos podemos
mexer.
(RAMOS, Graciliano. Memórias do cárcere. São Paulo:
Record, 1996, volume I, p. 33-34.)
Situa-se a literatura de Graciliano Ramos na:
Texto 5
Pneumotórax
Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.
Mandou chamar o médico:
- Diga trinta e três.
- Trinta e três... trinta e três... trinta e três...
- Respire.
..................................................
- O senhor tem uma escavação no pulmão
esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
- O s
- Então, doutor, não é possível tentar o
pneumotórax?
- Não. A única coisa a fazer é tocar um tango
argentino.
(BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira. Rio de
Janeiro: José Olympio, 1973, p.107.)
Em relação ao poema “Pneumotórax", é
correto afirmar que o poeta:
Texto 5
Pneumotórax
Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.
Mandou chamar o médico:
- Diga trinta e três.
- Trinta e três... trinta e três... trinta e três...
- Respire.
..................................................
- O senhor tem uma escavação no pulmão
esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
- O s
- Então, doutor, não é possível tentar o
pneumotórax?
- Não. A única coisa a fazer é tocar um tango
argentino.
(BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira. Rio de
Janeiro: José Olympio, 1973, p.107.)
Percebe-se no poema de Manuel Bandeira a predominância de um tom propositalmente: