Ir para o conteúdo principal

Questões de Concurso – Aprova Concursos

Milhares de questões com o conteúdo atualizado para você praticar e chegar ao dia da prova preparado!


Exibir questões com:
Não exibir questões:
Minhas questões:
Filtros aplicados:

Dica: Caso encontre poucas questões de uma prova específica, filtre pela banca organizadora do concurso que você deseja prestar.

Exibindo questões de 25984 encontradas. Imprimir página Salvar em Meus Filtros
Folha de respostas:

  • 1
    • a
    • b
    • c
    • d
    • e
  • 2
    • a
    • b
    • c
    • d
    • e
  • 3
    • a
    • b
    • c
    • d
  • 4
    • a
    • b
    • d
  • 5
    • a
    • b
    • c
    • d
  • 6
    • a
    • b
    • c
    • d
  • 7
    • a
    • b
    • c
    • d
    • e
  • 8
    • a
    • b
    • c
    • d
    • e
  • 9
    • a
    • b
    • c
    • d
    • e
  • 10
    • a
    • b
    • c
    • d
    • e
  • 11
    • a
    • b
    • c
    • d
    • e
  • 12
    • a
    • b
    • c
    • d
    • e
  • 13
    • a
    • b
    • c
    • d
    • e
  • 14
    • a
    • b
    • c
    • d
    • e
  • 15
    • a
    • b
    • c
    • d
    • e

Acerca de algumas relações de sentido presentes no Texto 1, assinale a alternativa CORRETA.

Sabemos que as normas ortográficas variam, de tempos em tempos. Assinale a alternativa cujo par de palavras está grafado segundo as normas que vigoram atualmente.

A opção em que há uma palavra intrusa exatamente por apresentar uma motivação (regra) para a acentuação diferente das demais é:

No que diz respeito à “mendicância ribeirinha" (linhas 26-27 – texto 3), a causa dessa situação é a (o)

Caso de recenseamento
Carlos Drummond de Andrade

  O agente do recenseamento vai bater numa casa de subúrbio longínquo, aonde nunca chegam as notícias.
  — Não quero comprar nada.
  — Eu não vim vender, minha senhora. Estou fazendo o censo da população e lhe peço o favor de me ajudar.
  — Ah moço, não estou em condições de ajudar ninguém. Tomara eu que Deus me ajude. Com licença, sim?
  E fecha-lhe a porta.
  Ele bate de novo.
  — O senhor, outra vez?! Não lhe disse que não adianta me pedir auxílio?
  — A senhora não me entendeu bem, desculpe. Desejo que me auxilie, mas é a encher este papel. Não vai pagar nada, não vou lhe tomar nada. Basta respondera umas perguntinhas.
  — Não vou respondera perguntinha nenhuma, estou muito ocupada, até logo!
  A porta é fechada de novo, de novo o agente obstinado tenta restabelecer o diálogo.
  — Sabe de uma coisa? Dê o fora depressa antes que eu chame meu marido!
  — Chame sim, minha senhora, eu me explico com ele.
  (Só Deus sabe o que irá acontecer. Mas o rapaz tem uma ideia na cabeça: é preciso preencher o questionário, é preciso preencher o questionário, é preciso preencher o questionário).
  — Que é que há? — resmunga o marido, sonolento, descalço e sem camisa, puxado pela mulher.
  — E esse camelô aí que não quer deixar a gente sossegada! 
  — Não sou camelô, meu amigo, sou agente do censo.
  — Agente coisa nenhuma, eles inventam uma besteira qualquer, depois empurram a mercadoria! A gente não pode comprar mais nada este mês, Ediraldo! '
  O marido faz-lhe um gesto para calar-se, enquanto ele estuda o rapaz, suas intenções. O agente explica-lhe tudo com calma, convertce-q de que não é nem camelô nem policial nem cobrador de impostos nem enviado de Tenório Cavalcanti. A ideia , de recenseamento, pouco a pouco, vai se instalando naquela casa, penetrando naquele espírito. Não custa atender ao rapaz, que é bonzinho e respeitoso.
  E como não há despesa nem ameaça de despesa ou incômodo de qualquer ordem, começa a informar, obscuramente orgulhoso de ser objeto, pela primeira vez na vida, da curiosidade do governo.    — O senhor tem filhos, seu Ediraldo?
  — Tenho três, sim senhor.
  — Pode me dizer a graça deles, por obséquio? Com a idade de cada um?
  — Pois não. Tenho o Jorge Independente, de 14 anos; o Miguel Urubatã, de 10; e a Pipoca, de 4.
  — Muito bem, me deixe tomar nota. Jorge... Urubatã... E a Pipoca, como é mesmo o nome dela?
  — Nós chamamos ela de Pipoca porque é doida por pipoca.
  — Se pudesse me dizer como é que ela foi registrada...
  — Isso eu não sei, não me lembro.
  E, voltando-se para a cozinha:
  — Mulher, sabes o nome da Pipoca?
  A mulher aparece confusa.
  — Assim de cabeça eu não guardei. Procura o papel na gaveta.
  Reviram a gaveta, não acham a certidão de registro civil.
  — Só perguntando à madrinha dela, que foi quem inventou o nome. Pra nós ela é Pipoca, tá bom?
  — Pois então fica se chamando Pipoca, decide o agente. Muito obrigado, seu Ediraldo, muito obrigado, minha senhora, disponham!

Assinale a alternativa que apresenta a definição correta do termo “recenseamento”.

Caso de recenseamento
Carlos Drummond de Andrade

  O agente do recenseamento vai bater numa casa de subúrbio longínquo, aonde nunca chegam as notícias.
  — Não quero comprar nada.
  — Eu não vim vender, minha senhora. Estou fazendo o censo da população e lhe peço o favor de me ajudar.
  — Ah moço, não estou em condições de ajudar ninguém. Tomara eu que Deus me ajude. Com licença, sim?
  E fecha-lhe a porta.
  Ele bate de novo.
  — O senhor, outra vez?! Não lhe disse que não adianta me pedir auxílio?
  — A senhora não me entendeu bem, desculpe. Desejo que me auxilie, mas é a encher este papel. Não vai pagar nada, não vou lhe tomar nada. Basta respondera umas perguntinhas.
  — Não vou respondera perguntinha nenhuma, estou muito ocupada, até logo!
  A porta é fechada de novo, de novo o agente obstinado tenta restabelecer o diálogo.
  — Sabe de uma coisa? Dê o fora depressa antes que eu chame meu marido!
  — Chame sim, minha senhora, eu me explico com ele.
  (Só Deus sabe o que irá acontecer. Mas o rapaz tem uma ideia na cabeça: é preciso preencher o questionário, é preciso preencher o questionário, é preciso preencher o questionário).
  — Que é que há? — resmunga o marido, sonolento, descalço e sem camisa, puxado pela mulher.
  — E esse camelô aí que não quer deixar a gente sossegada! 
  — Não sou camelô, meu amigo, sou agente do censo.
  — Agente coisa nenhuma, eles inventam uma besteira qualquer, depois empurram a mercadoria! A gente não pode comprar mais nada este mês, Ediraldo! '
  O marido faz-lhe um gesto para calar-se, enquanto ele estuda o rapaz, suas intenções. O agente explica-lhe tudo com calma, convertce-q de que não é nem camelô nem policial nem cobrador de impostos nem enviado de Tenório Cavalcanti. A ideia , de recenseamento, pouco a pouco, vai se instalando naquela casa, penetrando naquele espírito. Não custa atender ao rapaz, que é bonzinho e respeitoso.
  E como não há despesa nem ameaça de despesa ou incômodo de qualquer ordem, começa a informar, obscuramente orgulhoso de ser objeto, pela primeira vez na vida, da curiosidade do governo.    — O senhor tem filhos, seu Ediraldo?
  — Tenho três, sim senhor.
  — Pode me dizer a graça deles, por obséquio? Com a idade de cada um?
  — Pois não. Tenho o Jorge Independente, de 14 anos; o Miguel Urubatã, de 10; e a Pipoca, de 4.
  — Muito bem, me deixe tomar nota. Jorge... Urubatã... E a Pipoca, como é mesmo o nome dela?
  — Nós chamamos ela de Pipoca porque é doida por pipoca.
  — Se pudesse me dizer como é que ela foi registrada...
  — Isso eu não sei, não me lembro.
  E, voltando-se para a cozinha:
  — Mulher, sabes o nome da Pipoca?
  A mulher aparece confusa.
  — Assim de cabeça eu não guardei. Procura o papel na gaveta.
  Reviram a gaveta, não acham a certidão de registro civil.
  — Só perguntando à madrinha dela, que foi quem inventou o nome. Pra nós ela é Pipoca, tá bom?
  — Pois então fica se chamando Pipoca, decide o agente. Muito obrigado, seu Ediraldo, muito obrigado, minha senhora, disponham!

Releia o texto e analise as afirmativas abaixo a respeito da colocação pronominal.

  1. Na frase: “O marido faz-lhe um gesto para calar-se, enquanto ele estuda o rapaz, suas intenções”, o pronome destacado refere-se a esposa, uma vez que o gesto é feita para que ela se cale.
  2. Na frase: “O agente explica-lhe tudo com calma”, o pronome destacado se refere ao marido.
  3. Na frase: “Estou fazendo o censo da população e ]he peço o favor de me ajudar”, o pronome destacado se refere ao marido.'

É correto o que se afirma em

Leia o texto abaixo transcrito e, em seguida, responda à questão a ele referente.

É ético fazer a cabeça de nossos alunos?

  Alguns dos livros de história mais usados nas escolas brasileiras carregam na ideologia, que divide o mundo entre os capitalistas malvados e os heróis da resistência As aulas voltaram, por estas semanas, e decidi tirar a limpo uma velha questão: há ou não doutrinação ideológica em nossos livros didáticos? Para responder à pergunta, analisei alguns dos livros de história e sociologia mais adotados no país. Entre os dez livros que analisei, não encontrei, infelizmente, nenhum “pluralista” ou particularmente cuidadoso ao tratar de temas de natureza política ou econômica.
  O viés político surge no recorte dos fatos, na seleção das imagens, nas indicações de leituras, de filmes e de links culturais. A coisa toda opera à moda Star wars: o lado negro da força é a “globalização neoliberal”. O lado bom é a “resistência” do Fórum Social Mundial, de Porto Alegre, e dos “movimentos sociais”. No Brasil contemporâneo, Fernando Henrique Cardoso é Darth Vader, Lula é Luke Skywalker.

  No livro Estudos de história, da Editora FTD, por exemplo, nossos alunos aprenderão que Fernando Henrique era neoliberal (apesar de “tentar negar”) e seguiu a cartilha de Collor de Melo; e que os “resultados dessas políticas foram desastrosos”. Em sua época, havia “denúncias de subornos, favorecimentos e corrupção” por todos os lados, mas “pouco se investigou”.
  Nossos adolescentes saberão que “as privatizações produziram desemprego” e que o país assistia ao aumento da violência urbana e da concentração de renda e à “diminuição dos investimentos”. E que, de quebra, o MST pressionava pela reforma agrária, “sem sucesso”.

  Na página seguinte, a luz. Ilustrado com o decalque vermelho da campanha “Lula Rede Brasil Popular”, o texto ensina que, em 2002, “pela primeira vez” no país, alguém que “não era da elite” é eleito presidente. E que, “graças à política social do governo Lula”, 20 milhões de pessoas saíram da miséria. Isso tudo fez a economia crescer e “telefones celulares, eletrodomésticos sofisticados e computadores passaram a fazer parte do cotidiano de milhões de pessoas, que antes estavam à margem desse perfil de consumo”.
   Na leitura seguinte, do livro História geral e do Brasil, da Editora Scipione, o quadro era o mesmo. O PSDB é um partido “supostamente ético e ideológico” e os anos de Fernando Henrique são o cão da peste. Foram tempos de desemprego crescente, de “compromissos com as finanças internacionais”, em que “o crime organizado expandiu-se em torno do tráfico de
drogas, convertendo-se em poder paralelo nas favelas”.

  Com o governo Lula, tudo muda, ainda que com alguns senões. Numa curiosa aula de economia, os autores tentam explicar por que a “expansão econômica” foi “limitada”: pela adoção de uma “política amigável aos interesses estrangeiros, simbolizada pela liberdade ao capital especulativo”; pela “manutenção,
até 2005, dos acordos com o FMI” e dos “pagamentos
da dívida externa”.
  O livro História conecte, da Editora Saraiva, segue o mesmo roteiro. O governo Fernando Henrique é “neoliberal”. Privatizou “a maioria das empresas estatais” e os US$ 30 bilhões arrecadados “não foram investidos em saúde e educação, mas em lucros aos investidores e especuladores, com altas taxas de juros”. A frase mais curiosa vem no final: em seu segundo mandato, Fernando Henrique não fez “nenhuma reforma” nem tomou “nenhuma medida importante”. Imaginei o presidente deitado em uma rede, enquanto o país aprovava a Lei de Responsabilidade Fiscal (2000), o fator previdenciário (1999) ou o Bolsa Escola (2001).

  No livro História para o ensino médio, da Atual Editora, é curioso o tratamento dado ao “mensalão”. Nossos alunos saberão apenas que houve “denúncias de corrupção” contra o governo Lula, incluindo-se um caso conhecido como mensalão, “amplamente explorado pela imprensa liberal de oposição ao petismo”.

  Sobre a América Latina, nossos alunos aprenderão que o Paraguai foi excluído do Mercosul em 2012, por causa do “golpe de Estado”, que tirou do poder Fernando Hugo. Saberão que, com a eleição de Hugo Chávez, a Venezuela torna-se o “centro de contestação à política de globalização da economia liderada pelos Estados Unidos”. Que “a classe média e as elites conservadoras” não aceitaram as transformações produzidas pelo chavismo, mas que o comandante “conseguiu se consolidar”. Sobre a situação econômica da Venezuela, alguma informação? Algum dado crítico para dar uma equilibrada e permitir aos alunos que formem uma opinião? Nada.

  Curioso é o tratamento dado às ditaduras da América Latina. Para os casos da Argentina, Uruguai e Chile, um capítulo (merecido) mostrando os horrores do autoritarismo e seus heróis: extratos de As veias abertas da América Latina, de Eduardo Galeano; as mães da Praça de Maio, na Argentina; o músico Víctor Jara, executado pelo regime de Pinochet. Tudo perfeito.

  Quando, porém, se trata de Cuba, a conversa é inteiramente diferente. A única ditadura que aparece é a de Fulgêncio Batista. Em vez de filmes como Antes do anoitecer, sobre a repressão ao escritor homossexual Reynaldo Arenas, nossos estudantes são orientados a assistir a Diários de Motocicleta, Che e Personal Che.

  As restrições do castrismo à “liberdade de pensamento” surgem como “contradições” da revolução. Alguma palavra sobre os balseiros cubanos? Alguma fotografia, sugestão de filme ou link cultural? Alguma coisa sobre o paredón cubano? Alguma coisa sobre Yoane Sánchez ou as Damas de Branco? Zero. Nossos estudantes não terão essas informações para produzir seu próprio juízo. É precisamente isso que se chama ideologização.

  A doutrinação torna-se ainda mais aguda quando passamos para os manuais de sociologia. Em plena era das sociedades de rede, da revolução maker, da explosão dos coworkings e da economia colaborativa, nossos jovens aprendem uma rudimentar visão binária de mundo, feita de capitalistas malvados versus heróis da “resistência”. Em vez de encarar o século XXI e suas incríveis perspectivas, são conduzidos de volta à Manchester do século XIX.

  Superar esse problema não é uma tarefa trivial.Há um “mercado” de produtores de livros didáticos bem estabelecido no país, agindo sob a inércia de nossas editoras e a passividade de pais, professores e autoridades de educação. Sob o argumento malandro de que “tudo é ideologia”, essas pessoas prejudicam o desenvolvimento do espírito crítico de nossos alunos. E com isso fazem muito mal à educação brasileira.

Artigo escrito pelo filósofo Fernando L. Schüler. Revista Época. Edição de 07 de março de 2016. Número 925

Qual é o foco narrativo do texto?

Leia o texto abaixo transcrito e, em seguida, responda à questão a ele referente.

É ético fazer a cabeça de nossos alunos?

  Alguns dos livros de história mais usados nas escolas brasileiras carregam na ideologia, que divide o mundo entre os capitalistas malvados e os heróis da resistência As aulas voltaram, por estas semanas, e decidi tirar a limpo uma velha questão: há ou não doutrinação ideológica em nossos livros didáticos? Para responder à pergunta, analisei alguns dos livros de história e sociologia mais adotados no país. Entre os dez livros que analisei, não encontrei, infelizmente, nenhum “pluralista” ou particularmente cuidadoso ao tratar de temas de natureza política ou econômica.
  O viés político surge no recorte dos fatos, na seleção das imagens, nas indicações de leituras, de filmes e de links culturais. A coisa toda opera à moda Star wars: o lado negro da força é a “globalização neoliberal”. O lado bom é a “resistência” do Fórum Social Mundial, de Porto Alegre, e dos “movimentos sociais”. No Brasil contemporâneo, Fernando Henrique Cardoso é Darth Vader, Lula é Luke Skywalker.

  No livro Estudos de história, da Editora FTD, por exemplo, nossos alunos aprenderão que Fernando Henrique era neoliberal (apesar de “tentar negar”) e seguiu a cartilha de Collor de Melo; e que os “resultados dessas políticas foram desastrosos”. Em sua época, havia “denúncias de subornos, favorecimentos e corrupção” por todos os lados, mas “pouco se investigou”.
  Nossos adolescentes saberão que “as privatizações produziram desemprego” e que o país assistia ao aumento da violência urbana e da concentração de renda e à “diminuição dos investimentos”. E que, de quebra, o MST pressionava pela reforma agrária, “sem sucesso”.

  Na página seguinte, a luz. Ilustrado com o decalque vermelho da campanha “Lula Rede Brasil Popular”, o texto ensina que, em 2002, “pela primeira vez” no país, alguém que “não era da elite” é eleito presidente. E que, “graças à política social do governo Lula”, 20 milhões de pessoas saíram da miséria. Isso tudo fez a economia crescer e “telefones celulares, eletrodomésticos sofisticados e computadores passaram a fazer parte do cotidiano de milhões de pessoas, que antes estavam à margem desse perfil de consumo”.
   Na leitura seguinte, do livro História geral e do Brasil, da Editora Scipione, o quadro era o mesmo. O PSDB é um partido “supostamente ético e ideológico” e os anos de Fernando Henrique são o cão da peste. Foram tempos de desemprego crescente, de “compromissos com as finanças internacionais”, em que “o crime organizado expandiu-se em torno do tráfico de
drogas, convertendo-se em poder paralelo nas favelas”.

  Com o governo Lula, tudo muda, ainda que com alguns senões. Numa curiosa aula de economia, os autores tentam explicar por que a “expansão econômica” foi “limitada”: pela adoção de uma “política amigável aos interesses estrangeiros, simbolizada pela liberdade ao capital especulativo”; pela “manutenção,
até 2005, dos acordos com o FMI” e dos “pagamentos
da dívida externa”.
  O livro História conecte, da Editora Saraiva, segue o mesmo roteiro. O governo Fernando Henrique é “neoliberal”. Privatizou “a maioria das empresas estatais” e os US$ 30 bilhões arrecadados “não foram investidos em saúde e educação, mas em lucros aos investidores e especuladores, com altas taxas de juros”. A frase mais curiosa vem no final: em seu segundo mandato, Fernando Henrique não fez “nenhuma reforma” nem tomou “nenhuma medida importante”. Imaginei o presidente deitado em uma rede, enquanto o país aprovava a Lei de Responsabilidade Fiscal (2000), o fator previdenciário (1999) ou o Bolsa Escola (2001).

  No livro História para o ensino médio, da Atual Editora, é curioso o tratamento dado ao “mensalão”. Nossos alunos saberão apenas que houve “denúncias de corrupção” contra o governo Lula, incluindo-se um caso conhecido como mensalão, “amplamente explorado pela imprensa liberal de oposição ao petismo”.

  Sobre a América Latina, nossos alunos aprenderão que o Paraguai foi excluído do Mercosul em 2012, por causa do “golpe de Estado”, que tirou do poder Fernando Hugo. Saberão que, com a eleição de Hugo Chávez, a Venezuela torna-se o “centro de contestação à política de globalização da economia liderada pelos Estados Unidos”. Que “a classe média e as elites conservadoras” não aceitaram as transformações produzidas pelo chavismo, mas que o comandante “conseguiu se consolidar”. Sobre a situação econômica da Venezuela, alguma informação? Algum dado crítico para dar uma equilibrada e permitir aos alunos que formem uma opinião? Nada.

  Curioso é o tratamento dado às ditaduras da América Latina. Para os casos da Argentina, Uruguai e Chile, um capítulo (merecido) mostrando os horrores do autoritarismo e seus heróis: extratos de As veias abertas da América Latina, de Eduardo Galeano; as mães da Praça de Maio, na Argentina; o músico Víctor Jara, executado pelo regime de Pinochet. Tudo perfeito.

  Quando, porém, se trata de Cuba, a conversa é inteiramente diferente. A única ditadura que aparece é a de Fulgêncio Batista. Em vez de filmes como Antes do anoitecer, sobre a repressão ao escritor homossexual Reynaldo Arenas, nossos estudantes são orientados a assistir a Diários de Motocicleta, Che e Personal Che.

  As restrições do castrismo à “liberdade de pensamento” surgem como “contradições” da revolução. Alguma palavra sobre os balseiros cubanos? Alguma fotografia, sugestão de filme ou link cultural? Alguma coisa sobre o paredón cubano? Alguma coisa sobre Yoane Sánchez ou as Damas de Branco? Zero. Nossos estudantes não terão essas informações para produzir seu próprio juízo. É precisamente isso que se chama ideologização.

  A doutrinação torna-se ainda mais aguda quando passamos para os manuais de sociologia. Em plena era das sociedades de rede, da revolução maker, da explosão dos coworkings e da economia colaborativa, nossos jovens aprendem uma rudimentar visão binária de mundo, feita de capitalistas malvados versus heróis da “resistência”. Em vez de encarar o século XXI e suas incríveis perspectivas, são conduzidos de volta à Manchester do século XIX.

  Superar esse problema não é uma tarefa trivial.Há um “mercado” de produtores de livros didáticos bem estabelecido no país, agindo sob a inércia de nossas editoras e a passividade de pais, professores e autoridades de educação. Sob o argumento malandro de que “tudo é ideologia”, essas pessoas prejudicam o desenvolvimento do espírito crítico de nossos alunos. E com isso fazem muito mal à educação brasileira.

Artigo escrito pelo filósofo Fernando L. Schüler. Revista Época. Edição de 07 de março de 2016. Número 925

Releia a passagem e responda: “Com o governo Lula, tudo muda, ainda que com alguns senões.” Aponte um sinônimo (uma palavra ou expressão) para a palavra destacada:

A passagem a seguir servirá de base para as questão.

“E que, de quebra, o MST pressionava pela reforma agrária, “sem sucesso”.”

De acordo com as normas vigentes no sistema ortográfico da língua portuguesa, as palavras sublinhadas “quebra” e “sucesso”, respectivamente, apresentam:

Leia o texto abaixo transcrito e, em seguida, responda à questão a ele referente:

A casa

    Um casal amigo se separa e a mulher decide vender a casa. Vai morar com os filhos num apartamento novo. O homem também se instala em
outro lugar, igualmente confortável. Ambos estão felizes e satisfeitos com a mudança. Ele já tem uma bonita namorada e ela muito em breve achará novo companheiro. Bem feitas as contas, o prejuízo foi meu, que perdi o terraço. Sim, era um pouco meu aquele pedaço da casa, onde passei bons momentos de férias, desfrutando a brisa atlântica e tomando uísque com água de coco.
    Quando anunciaram o desenlace eu quis defender os meus interesses, mas deixei barato e permiti que seguissem o seu destino. Sou um sujeito compreensivo, abri mão do terraço. Fui mais longe em minha generosidade. Renunciei aos livros, discos, garrafas de boa bebida, quarto refrigerado. E abri mão principalmente, sufocando queixas, de uma cálida atmosfera humana, impossível de achar em qualquer hotel cinco estrelas e que o tempo vinha desgastando naquela casa finalmente desfeita, vendida, abandonada. Parece que esse é o destino inexorável de todas as casas. Acabam compradas, trocadas por apartamentos, invadidas por estranhos.

    O desmonte foi lento e triste. Vi, nos preparativos da mudança, o descarte de coisas imprestáveis, com o vago sentimento de que também eu estava sendo descartado e deixado para trás como um guarda-chuva quebrado ou um velho objeto empoeirado e sem serventia. Dos moradores, somente minha mulher e eu, que éramos temporários, parecíamos ter saudades. Espiávamos, comovidos, aquelas caixas pardas que se iam fechando, levando um pouco de nós dois dentro delas. Ficava patente que estávamos vivendo o nosso último verão com aquelas pessoas tão queridas, para as quais, entretanto, pouco importava a proximidade do mar, a mangueira plena de frutos, o sudoeste soprando no fim das tardes, o cheiro de terra molhada pela “chuva de caju” nos ensolarados dezembros do Recife.

    Tiramos uma fotografia do jardim. Contemplamos gravemente a paisagem líquida e verde que se descortinava no terraço. E vimos o quintal com os mesmos olhos saudosos que, na infância, reparavam os quintais pela última vez, a cada mudança.

    Depois desse disfarçado ritual, abraços e beijos na família que nos hospedou. Já dentro do táxi para o aeroporto, arrisco um aceno discreto para a casa. Ela vai ficar ali, esperando novos e desconhecidos moradores. Guardando, em seu silêncio de pedra, noites alegres, festas, risadas, palavras amigas, e tudo mais que de repente se muda do tempo de agora para o cinzento do passado irrecorrível. Adeus, acabou.

FALCÃO, Aluízio. Crônicas da vida boêmia. Editora Ateliê Editorial. São Paulo: 1998.

Qual é o tom predominante no texto?

Leia o texto abaixo transcrito e, em seguida, responda à questão a ele referente:

A casa

    Um casal amigo se separa e a mulher decide vender a casa. Vai morar com os filhos num apartamento novo. O homem também se instala em
outro lugar, igualmente confortável. Ambos estão felizes e satisfeitos com a mudança. Ele já tem uma bonita namorada e ela muito em breve achará novo companheiro. Bem feitas as contas, o prejuízo foi meu, que perdi o terraço. Sim, era um pouco meu aquele pedaço da casa, onde passei bons momentos de férias, desfrutando a brisa atlântica e tomando uísque com água de coco.
    Quando anunciaram o desenlace eu quis defender os meus interesses, mas deixei barato e permiti que seguissem o seu destino. Sou um sujeito compreensivo, abri mão do terraço. Fui mais longe em minha generosidade. Renunciei aos livros, discos, garrafas de boa bebida, quarto refrigerado. E abri mão principalmente, sufocando queixas, de uma cálida atmosfera humana, impossível de achar em qualquer hotel cinco estrelas e que o tempo vinha desgastando naquela casa finalmente desfeita, vendida, abandonada. Parece que esse é o destino inexorável de todas as casas. Acabam compradas, trocadas por apartamentos, invadidas por estranhos.

    O desmonte foi lento e triste. Vi, nos preparativos da mudança, o descarte de coisas imprestáveis, com o vago sentimento de que também eu estava sendo descartado e deixado para trás como um guarda-chuva quebrado ou um velho objeto empoeirado e sem serventia. Dos moradores, somente minha mulher e eu, que éramos temporários, parecíamos ter saudades. Espiávamos, comovidos, aquelas caixas pardas que se iam fechando, levando um pouco de nós dois dentro delas. Ficava patente que estávamos vivendo o nosso último verão com aquelas pessoas tão queridas, para as quais, entretanto, pouco importava a proximidade do mar, a mangueira plena de frutos, o sudoeste soprando no fim das tardes, o cheiro de terra molhada pela “chuva de caju” nos ensolarados dezembros do Recife.

    Tiramos uma fotografia do jardim. Contemplamos gravemente a paisagem líquida e verde que se descortinava no terraço. E vimos o quintal com os mesmos olhos saudosos que, na infância, reparavam os quintais pela última vez, a cada mudança.

    Depois desse disfarçado ritual, abraços e beijos na família que nos hospedou. Já dentro do táxi para o aeroporto, arrisco um aceno discreto para a casa. Ela vai ficar ali, esperando novos e desconhecidos moradores. Guardando, em seu silêncio de pedra, noites alegres, festas, risadas, palavras amigas, e tudo mais que de repente se muda do tempo de agora para o cinzento do passado irrecorrível. Adeus, acabou.

FALCÃO, Aluízio. Crônicas da vida boêmia. Editora Ateliê Editorial. São Paulo: 1998.

Assinale a alternativa CORRETA, de acordo com o texto:

Em Os meios de comunicação não só se alimentam dessa figura, mas não cessam de institui-la como o sujeito da comunicação, os termos grifados poderiam ser substituídos, sem prejuízo do sentido, por: 


I. não apenas; e assim 
II. não unicamente; assim 
III. não somente; como também 
IV. não somente; mas também

Texto para responderás questões de 01 a 10.

O espelho

Esboço de uma nova teoria da alma humana

Quatro ou cinco cavalheiros debatiam, uma noite, várias

questões de alta transcendência, sem que a disparidade dos

votos trouxesse a menor alteração aos espíritos. A casa ficava no

morro de Santa Teresa, a sala era pequena, alumiada a velas,

cuja luz fundia-se misteriosamente com o luar que vinha de fora.

Entre a cidade, com as suas agitações e aventuras, e o céu, em

que as estrelas pestanejavam, através de uma atmosfera límpida

e sossegada, estavam os nossos quatro ou cinco investigadores

de coisas metafísicas, resolvendo amigavelmente os mais

árduos problemas do universo.

Por que quatro ou cinco? Rigorosamente eram quatro os

que falavam; mas, além deles, havia na sala um quinto

personagem, calado, pensando, cochilando, cuja espórtula no

debate não passava de um ou outro resmungo de aprovação.

Esse homem tinha a mesma idade dos companheiros, entre

quarenta e cinquenta anos, era provinciano, capitalista,

inteligente, não sem instrução, e, ao que parece, astuto e

cáustico. Não discutia nunca; e defendia-se da abstenção com

um paradoxo, dizendo que a discussão é a forma polida do

instinto batalhador, que jaz no homem, como uma herança

bestial; e acrescentava que os serafins e os querubins não

controvertiam nada, e, aliás, eram a perfeição espiritual e eterna.

[...]

Vai senão quando, no meio da noite, sucedeu que este

casmurro usou da palavra, e não dois ou três minutos, mas trinta

ou quarenta. A conversa, em seus meandros, veio a cair na

natureza da alma, ponto que dividiu radicalmente os quatro

amigos. Cada cabeça, cada sentença; não só o acordo, mas a

mesma discussão tornou-se difícil, senão impossível, pela

multiplicidade das questões que se deduziram do tronco principal

e um pouco, talvez, pela inconsistência dos pareceres. Um dos

argumentadores pediu ao Jacobina alguma opinião, - uma

conjetura, ao menos.

- Nem conjetura, nem opinião, redarguiu ele; uma ou

outra pode dar lugar a dissentimento, e, como sabem, eu não

discuto. Mas, se querem ouvir-me calados, posso contar-lhes um

caso de minha vida, em que ressalta a mais clara demonstração

acerca da matéria de que se trata. Em primeiro lugar, não há uma

só alma, há duas...

-Duas?

- Nada menos de duas almas. Cada criatura humana

traz duas almas consigo: uma que olha de dentro para fora, outra

que olha de fora para dentro... Espantem-se à vontade, podem

ficar de boca aberta, dar de ombros, tudo; não admito réplica. Se

me replicarem, acabo o charuto e vou dormir. Aalma exterior pode

ser um espírito, um fluido, um homem, muitos homens, um objeto,

uma operação. Há casos, por exemplo, em que um simples botão

de camisa é a alma exterior de uma pessoa; - e assim também a

polca, o voltarete, um livro, uma máquina, um par de botas, uma

cavatina, um tambor, etc. Está claro que o ofício dessa segunda

alma é transmitir a vida, como a primeira; as duas completam o

homem, que é, metafisicamente falando, uma laranja. Quem

perde uma das metades, perde naturalmente metade da

existência; e casos há, não raros, em que a perda da alma exterior

implica a da existência inteira. Shylock, por exemplo. A alma

exterior daquele judeu eram os seus ducados; perdê-los equivalia

a morrer. ''Nunca mais verei o meu ouro, diz ele a Tubal; é um

punhal que me enterras no coração." Vejam bem esta frase; a

perda dos ducados, alma exterior, era a morte para ele. Agora, é

preciso saber que a alma exterior não é sempre a mesma...

[...]

ASSIS, Machado de. Obra Completa. Rio de Janeiro: Nova

Aguilar 1994. v. II. (fragmento)

O subtítulo, “esboço de uma nova teoria da alma humana”, a afirmação do narrador no primeiro parágrafo de que os personagens “debatiam questões de alta transcendência” e eram “investigadores de coisas metafísicas [...] resolvendo amigavelmente os mais árduos problemas do universo” colocam diante do leitora:

Texto para responderás questões de 01 a 10.

O espelho

Esboço de uma nova teoria da alma humana

Quatro ou cinco cavalheiros debatiam, uma noite, várias

questões de alta transcendência, sem que a disparidade dos

votos trouxesse a menor alteração aos espíritos. A casa ficava no

morro de Santa Teresa, a sala era pequena, alumiada a velas,

cuja luz fundia-se misteriosamente com o luar que vinha de fora.

Entre a cidade, com as suas agitações e aventuras, e o céu, em

que as estrelas pestanejavam, através de uma atmosfera límpida

e sossegada, estavam os nossos quatro ou cinco investigadores

de coisas metafísicas, resolvendo amigavelmente os mais

árduos problemas do universo.

Por que quatro ou cinco? Rigorosamente eram quatro os

que falavam; mas, além deles, havia na sala um quinto

personagem, calado, pensando, cochilando, cuja espórtula no

debate não passava de um ou outro resmungo de aprovação.

Esse homem tinha a mesma idade dos companheiros, entre

quarenta e cinquenta anos, era provinciano, capitalista,

inteligente, não sem instrução, e, ao que parece, astuto e

cáustico. Não discutia nunca; e defendia-se da abstenção com

um paradoxo, dizendo que a discussão é a forma polida do

instinto batalhador, que jaz no homem, como uma herança

bestial; e acrescentava que os serafins e os querubins não

controvertiam nada, e, aliás, eram a perfeição espiritual e eterna.

[...]

Vai senão quando, no meio da noite, sucedeu que este

casmurro usou da palavra, e não dois ou três minutos, mas trinta

ou quarenta. A conversa, em seus meandros, veio a cair na

natureza da alma, ponto que dividiu radicalmente os quatro

amigos. Cada cabeça, cada sentença; não só o acordo, mas a

mesma discussão tornou-se difícil, senão impossível, pela

multiplicidade das questões que se deduziram do tronco principal

e um pouco, talvez, pela inconsistência dos pareceres. Um dos

argumentadores pediu ao Jacobina alguma opinião, - uma

conjetura, ao menos.

- Nem conjetura, nem opinião, redarguiu ele; uma ou

outra pode dar lugar a dissentimento, e, como sabem, eu não

discuto. Mas, se querem ouvir-me calados, posso contar-lhes um

caso de minha vida, em que ressalta a mais clara demonstração

acerca da matéria de que se trata. Em primeiro lugar, não há uma

só alma, há duas...

-Duas?

- Nada menos de duas almas. Cada criatura humana

traz duas almas consigo: uma que olha de dentro para fora, outra

que olha de fora para dentro... Espantem-se à vontade, podem

ficar de boca aberta, dar de ombros, tudo; não admito réplica. Se

me replicarem, acabo o charuto e vou dormir. Aalma exterior pode

ser um espírito, um fluido, um homem, muitos homens, um objeto,

uma operação. Há casos, por exemplo, em que um simples botão

de camisa é a alma exterior de uma pessoa; - e assim também a

polca, o voltarete, um livro, uma máquina, um par de botas, uma

cavatina, um tambor, etc. Está claro que o ofício dessa segunda

alma é transmitir a vida, como a primeira; as duas completam o

homem, que é, metafisicamente falando, uma laranja. Quem

perde uma das metades, perde naturalmente metade da

existência; e casos há, não raros, em que a perda da alma exterior

implica a da existência inteira. Shylock, por exemplo. A alma

exterior daquele judeu eram os seus ducados; perdê-los equivalia

a morrer. ''Nunca mais verei o meu ouro, diz ele a Tubal; é um

punhal que me enterras no coração." Vejam bem esta frase; a

perda dos ducados, alma exterior, era a morte para ele. Agora, é

preciso saber que a alma exterior não é sempre a mesma...

[...]

ASSIS, Machado de. Obra Completa. Rio de Janeiro: Nova

Aguilar 1994. v. II. (fragmento)

Uma nova pontuação de trechos e/ou alteração ortográfica, retirados do texto, foi (foram) feita(s) de forma correta, sem inadequações gramaticais e sem alterar o sentido, em:

Texto para responderás questões de 01 a 10.

O espelho

Esboço de uma nova teoria da alma humana

Quatro ou cinco cavalheiros debatiam, uma noite, várias

questões de alta transcendência, sem que a disparidade dos

votos trouxesse a menor alteração aos espíritos. A casa ficava no

morro de Santa Teresa, a sala era pequena, alumiada a velas,

cuja luz fundia-se misteriosamente com o luar que vinha de fora.

Entre a cidade, com as suas agitações e aventuras, e o céu, em

que as estrelas pestanejavam, através de uma atmosfera límpida

e sossegada, estavam os nossos quatro ou cinco investigadores

de coisas metafísicas, resolvendo amigavelmente os mais

árduos problemas do universo.

Por que quatro ou cinco? Rigorosamente eram quatro os

que falavam; mas, além deles, havia na sala um quinto

personagem, calado, pensando, cochilando, cuja espórtula no

debate não passava de um ou outro resmungo de aprovação.

Esse homem tinha a mesma idade dos companheiros, entre

quarenta e cinquenta anos, era provinciano, capitalista,

inteligente, não sem instrução, e, ao que parece, astuto e

cáustico. Não discutia nunca; e defendia-se da abstenção com

um paradoxo, dizendo que a discussão é a forma polida do

instinto batalhador, que jaz no homem, como uma herança

bestial; e acrescentava que os serafins e os querubins não

controvertiam nada, e, aliás, eram a perfeição espiritual e eterna.

[...]

Vai senão quando, no meio da noite, sucedeu que este

casmurro usou da palavra, e não dois ou três minutos, mas trinta

ou quarenta. A conversa, em seus meandros, veio a cair na

natureza da alma, ponto que dividiu radicalmente os quatro

amigos. Cada cabeça, cada sentença; não só o acordo, mas a

mesma discussão tornou-se difícil, senão impossível, pela

multiplicidade das questões que se deduziram do tronco principal

e um pouco, talvez, pela inconsistência dos pareceres. Um dos

argumentadores pediu ao Jacobina alguma opinião, - uma

conjetura, ao menos.

- Nem conjetura, nem opinião, redarguiu ele; uma ou

outra pode dar lugar a dissentimento, e, como sabem, eu não

discuto. Mas, se querem ouvir-me calados, posso contar-lhes um

caso de minha vida, em que ressalta a mais clara demonstração

acerca da matéria de que se trata. Em primeiro lugar, não há uma

só alma, há duas...

-Duas?

- Nada menos de duas almas. Cada criatura humana

traz duas almas consigo: uma que olha de dentro para fora, outra

que olha de fora para dentro... Espantem-se à vontade, podem

ficar de boca aberta, dar de ombros, tudo; não admito réplica. Se

me replicarem, acabo o charuto e vou dormir. Aalma exterior pode

ser um espírito, um fluido, um homem, muitos homens, um objeto,

uma operação. Há casos, por exemplo, em que um simples botão

de camisa é a alma exterior de uma pessoa; - e assim também a

polca, o voltarete, um livro, uma máquina, um par de botas, uma

cavatina, um tambor, etc. Está claro que o ofício dessa segunda

alma é transmitir a vida, como a primeira; as duas completam o

homem, que é, metafisicamente falando, uma laranja. Quem

perde uma das metades, perde naturalmente metade da

existência; e casos há, não raros, em que a perda da alma exterior

implica a da existência inteira. Shylock, por exemplo. A alma

exterior daquele judeu eram os seus ducados; perdê-los equivalia

a morrer. ''Nunca mais verei o meu ouro, diz ele a Tubal; é um

punhal que me enterras no coração." Vejam bem esta frase; a

perda dos ducados, alma exterior, era a morte para ele. Agora, é

preciso saber que a alma exterior não é sempre a mesma...

[...]

ASSIS, Machado de. Obra Completa. Rio de Janeiro: Nova

Aguilar 1994. v. II. (fragmento)

Em situação hipotética, se Machado de Assis resolvesse

escrever uma redação oficial em vez de um conto, o texto deveria:

© Aprova Concursos - Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1482 - Curitiba, PR - 0800 727 6282