O “politicamente correto" tem seus exageros, como
chamar baixinho de “verticalmente prejudicado", mas,
no fundo, vem de uma louvável preocupação em não
ofender os diferentes. É muito mais gentil chamar
estrabismo de “idiossincrasia ótica" do que de vesguice.
O linguajar brasileiro está cheio de expressões racistas
e preconceituosas que precisam de uma correção, e até
as várias denominações para bêbado (pinguço, bebo,
pé–de–cana) poderiam ser substituídas por algo como
“contumaz etílico", para lhe poupar os sentimentos.
O tratamento verbal dado aos negros é o melhor
exemplo da condescendência que passa por tolerância
racial no Brasil. Termos como “crioulo", “negão" etc. são
até considerados carinhosos, do tipo de carinho que se
dá a inferiores, e, felizmente, cada vez menos ouvidos.
“Negro" também não é mais correto. Foi substituído por
afrodescendentem, por influência dos afro–americans,
num caso de colonialismo cultural positivo. Está certo.
Enquanto o racismo que não quer dizer seu nome
continua no Brasil, uma integração real pode começar
pela linguagem.
VERÍSSIMO, L. F. Peixe na cama. Diário de Pernambuco. 10 jun. 2006 (adaptado).
Ao comparar a linguagem cotidiana utilizada no Brasil e
as exigências do comportamento “politicamente correto",
o autor tem a intenção de
O American Idol islâmico
Quem não gosta do Big Brother diz que os reality shows são programas vazios, sem cultura. No mundo árabe, esse problema já foi resolvido: em The Millions' Poet ("O Poeta dos Milhões"), líder de audiência no golfo pérsico, o prêmio vai para o melhor poeta. O programa, que é transmitido pela Abu Dhabi TV e tem 70 milhões de espectadores, é uma competição entre 48 poetas de 12 países árabes — em que o vencedor leva um prêmio de US$ 1,3 milhão.
Mas lá, como aqui, o reality gera controvérsia. O BBB teve a polêmica dos "coloridos" (grupo em que todos os participantes eram homossexuais). E Millions' Poet detonou uma discussão sobre os direitos da mulher no mundo árabe.
GARATTONI, B. O American Idol islâmico. SuperInteressante. Edição 278, maio 2010 (fragmento).
No trecho "Mas lá, como aqui, o realitygera controvérsia", o termo destacado foi utilizado para estabelecer uma ligação com outro termo presente no texto, isto é, fazer referência ao
O novo boca a boca
Tomara que não seja verdade, porque, se for, os críticos, comentaristas, os chamados formadores de opinião, todos corremos o risco de perder nossa razão de ser e nossos empregos. Há uma nova ameaça à vista. Dizem que a Internet será em breve, já está sendo, o boca a boca de milhões de pessoas, isto é, vai substituir aquele processo usado tradicionalmente para recomendar um filme, uma peça, um livro e até um candidato. Não mais a orientação transmitida pela imprensa e nem mesmo as dicas dadas pessoalmente — tudo seria feito virtualmente pelos mecanismos de mobilização da rede.
VENTURA, Z. O Globo, 19 set. 2009 (fragmento).
Segundo o texto, a Internet apresenta a possibilidade de modificar as relações sociais, na medida em que estabelece novos meios de realizar atividades cotidianas. A preocupação do autor acerca do desaparecimento de determinadas profissões deve-se
A carreira do crime
Estudo feito por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz sobre adolescentes recrutados
pelo tráfico de drogas nas favelas
cariocas expõe as bases sociais dessas quadrilhas, contribuindo para explicar as
dificuldades que o Estado enfrenta no
combate ao crime organizado.
O tráfico oferece ao jovem de escolaridade precária (nenhum dos entrevistados havia
completado o ensino fundamental)
um plano de carreira bem estruturado, com salários que variam de R$ 400,00 a R$ 12.000
mensais.
Para uma base de comparação, convém notar que, segundo dados do IBGE de 2001, 59% da
população brasileira com
mais de dez anos que declara ter uma atividade remunerada ganha no máximo o piso
salarial oferecido pelo crime.
Dos traficantes ouvidos pela pesquisa, 25% recebiam mais de R$ 2.000 mensais; já na
população brasileira essa taxa
não ultrapassa 6%.
Tais rendimentos mostram que as políticas sociais compensatórias, como o Bolsa-Escola
(que paga R$ 15 mensais por aluno
matriculado), são por si só incapazes de impedir que o narcotráfico continue aliciando
crianças provenientes de estratos de
baixa renda: tais políticas aliviam um pouco o orçamento familiar e incentivam os pais
a manterem os filhos estudando,
o que de modo algum impossibilita a opção pela deliquência. No mesmo sentido, os
programas voltados aos jovens
vulneráveis ao crime organizado ( circo-escola, oficinas de cultura, escolinhas de
futebol) são importantes, mas não resolvem
o problema.
A única maneira de reduzir a atração exercida pelo tráfico é a repressão, que aumenta
os riscos para os que escolhem
esse caminho. Os rendimentos pagos aos adolescentes provam isso: eles são elevados
precisamente porque a possibilidade
de ser preso não é desprezível. É preciso que o Executivo federal e os estaduais
desmontem as organizações paralelas
erguidas pelas quadrilhas, para que a certeza de punição elimine o fascínio dos
salários do crime.
Editorial. Folha de São Paulo. 15 jan. 2003.
Com base nos argumentos do autor, o texto aponta para
Venho solicitar a clarividente atenção de Vossa Excelência para que seja conjurada uma calamidade que está prestes a desabar em cima da juventude feminina do Brasil. Refiro-me, senhor presidente, ao movimento entusiasta que está empolgando centenas de moças, atraindo-as para se transformarem em jogadoras de futebol, sem se levar em conta que a mulher não poderá praticar este esporte violento sem afetar, seriamente, o equilíbrio fisiológicos de suas funções orgânicas, devido à natureza que dispôs a ser mãe, Ao que dizem os jornais, no Rio de Janeiro, já estão formados nada menos de dez quadros femininos. Em São Paulo e Belo Horizonte também já estão se constituindo outros. E, neste crescendo, dentro de um ano, é provável que em todo o Brasil estejam organizados uns 200 clubes femininos de futebol: ou seja: 200 núcleos destroçados da saúde de 2,2 mil futuras mães, que, além do mais, ficarão presas a uma mentalidade depressiva e propensa aos exibicionismos rudes e extravagantes.
Coluna Pênalti. Carta Capital. 28 abr. 2010.
O trecho é parte de uma carta de um cidadão brasileiro, José Fuzeira, encaminhada, em abril de 1940, ao então presidente da República Getúlio Vargas. As opções linguísticas de fuzeira mostram que seu texto foi elaborado em linguagem
O dia em que o peixe saiu de graça
Uma operação do Ibama para combater a pesca ilegal na divisa entre os Estados do Pará, Maranhão e Tocantins incinerou 110 quilômetros de redes usadas por pescadores durante o período em que os peixes se reproduzem. Embora tenha um impacto temporário na atividade econômica da região, a medida visa preservá-la ao longo prazo, evitando o risco de extinção dos animais. Cerca de 15 toneladas de peixes foram apreendidas e doadas para instituições de caridade.
Época. 23 mar. 2009 (adaptado).
A notícia, do ponto de vista de seus elementos constitutivos,
A Internet que você faz
Uma pequena invenção, a Wikipédia, mudou o jeito de lidarmos com informações na rede. Trata-se de uma enciclopédia virtual colaborativa, que é feita e atualizada por qualquer internauta que tenha algo a contribuir. Em resumo: é como se você imprimisse uma nova página para a publicação desatualizada que encontrou na biblioteca.
Antigamente, quando precisávamos de alguma informação confiável, tínhamos a enciclopédia como fonte segura de pesquisa para trabalhos, estudos e pesquisa em geral. Contudo, a novidade trazida pela Wikipédia nos coloca em uma nova circunstância, em que não podemos confiar integralmente no que lemos.
Por ter como lema principal a escritura coletiva, seus textos trazem informações que podem ser editadas e reeditadas por pessoas do mundo inteiro. Ou seja, a relevância da informação não é determinada pela tradição cultural, como nas antigas enciclopédias, mas pela dinâmica da mídia.
Assim, questiona-se a possibilidade de serem encontradas informações corretas entre sabotagens deliberadas e contribuições erradas.
NÉO, A. et al. A Internet que você faz. In: Revista PENSE! Secretaria de Educação do Estado do Ceará. Ano 2, nº. 3, mar.-abr. 2010 (adaptado).
As novas Tecnologias de Informação e Comunicação, como a Wikipédia, têm trazido inovações que impactaram significativamente a sociedade. A respeito desse assunto, o texto apresentado mostra que a falta de confiança na veracidade dos conteúdos registrados na Wikipédia
Choque a 36 000 km/h
A faixa que vai de 160 quilômetros de altitude em volta da terra assemelha-se a uma avenida congestionada onde orbitam 3 000 satélites ativos. Eles disputam espaço com 17 000 fragmentos de artefatos lançados pela Terra e que se desmancharam foguetes, satélites desativados e até ferramentas perdidas por astronautas. Com um tráfego celeste tão intenso, era questão de tempo para que acontecesse um acidente de grandes proporções, como o da semana passada. Na terça-feira, dois satélites em órbita desde os anos 90 colidiram em um ponto 790 quilômetros acima da Sibéria. A trombada dos satélites chama a atenção para os riscos que oferece a montanha de lixo espacial em órbita. Como os objetos viajam a grande velocidade, mesmo um pequeno fragmento de 10 centímetros poderia causar estragos consideráveis no telescópio Hubble ou na estação espacial Internacional nesse caso pondo em risco a vida dos astronautas que lá trabalham.
Revista Veja. 18 set. 2009 (adaptado).
Levando-se em consideração os elementos constitutivos de um texto jornalístico, infere-se que o autor teve como objetivo
A carreira do crime
Estudo feito por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz sobre adolescentes recrutados
pelo tráfico de drogas nas favelas
cariocas expõe as bases sociais dessas quadrilhas, contribuindo para explicar as
dificuldades que o Estado enfrenta no
combate ao crime organizado.
O tráfico oferece ao jovem de escolaridade precária (nenhum dos entrevistados havia
completado o ensino fundamental)
um plano de carreira bem estruturado, com salários que variam de R$ 400,00 a R$ 12.000
mensais.
Para uma base de comparação, convém notar que, segundo dados do IBGE de 2001, 59% da
população brasileira com
mais de dez anos que declara ter uma atividade remunerada ganha no máximo o piso
salarial oferecido pelo crime.
Dos traficantes ouvidos pela pesquisa, 25% recebiam mais de R$ 2.000 mensais; já na
população brasileira essa taxa
não ultrapassa 6%.
Tais rendimentos mostram que as políticas sociais compensatórias, como o Bolsa-Escola
(que paga R$ 15 mensais por aluno
matriculado), são por si só incapazes de impedir que o narcotráfico continue aliciando
crianças provenientes de estratos de
baixa renda: tais políticas aliviam um pouco o orçamento familiar e incentivam os pais
a manterem os filhos estudando,
o que de modo algum impossibilita a opção pela deliquência. No mesmo sentido, os
programas voltados aos jovens
vulneráveis ao crime organizado ( circo-escola, oficinas de cultura, escolinhas de
futebol) são importantes, mas não resolvem
o problema.
A única maneira de reduzir a atração exercida pelo tráfico é a repressão, que aumenta
os riscos para os que escolhem
esse caminho. Os rendimentos pagos aos adolescentes provam isso: eles são elevados
precisamente porque a possibilidade
de ser preso não é desprezível. É preciso que o Executivo federal e os estaduais
desmontem as organizações paralelas
erguidas pelas quadrilhas, para que a certeza de punição elimine o fascínio dos
salários do crime.
Editorial. Folha de São Paulo. 15 jan. 2003.
No Editorial, o autor defende a tese de que “as políticas sociais que procuram evitar a entrada dos jovens no tráfico não terão chance de sucesso enquanto a remuneração oferecida pelos traficantes for tão mais compensatória que aquela oferecida pelos programas do governo”. Para comprovar sua tese, o autor apresenta