Caminhando contra o vento,
Sem lenço e sem documento
No sol de quase dezembro
Eu vou
O sol se reparte em crimes
Espaçonaves, guerrilhas
Em cardinales bonitas
Eu vou
Em caras de presidentes
Em grandes beijos de amor
Em dentes, pernas, bandeiras
Bombas e Brigitte Bardot
O sol nas bancas de revista
Me enche de alegria e preguiça
Quem lê tanta notícia
Eu vou
VELOSO, C. Alegria, alegria. In: Caetano Veloso.São Paulo: Phillips, 1967 (fragmento).
É comum coexistirem sequências tipológicas em um
mesmo gênero textual. Nesse fragmento, os tipos textuais
que se destacam na organização temática são
Chiquito tinha quase trinta quando conheceu Mariana num baile de casamento na Forquilha, onde moravam uns parentes dele. Por lá foi ficando, remanchando. Fez mal à moça, como costumavam dizer, tiveram de casar às pressas. Morou uns tempos com o sogro, descombinaram. Foi só conta de colher o milho e vender. Mudou pra casa do velho Chico Lourenço [seu pai]. Fumaça própria só viu
subir um par de anos depois, quando o pai repartiu as terras. De tão parecidos, pai e filho nunca combinaram direito. Cada qual mais topetudo, muitas vezes dona Aparecida ouvia o marido reclamar da natureza forte do filho. Ela escutava com paciência e respondia dum jeito sempre igual:
— “Quem herda, não rouba”.
Vinha um brilho nos olhos, o velho se acalmava.
ROMANO, O. Casos de Minas. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.
Os ditados populares são frases de sabedoria criadas pelo povo, utilizadas em várias situações da vida. Nesse texto, a personagem emprega um ditado popular com a intenção de
A vida às vezes é como um jogo brincado na rua: estamos no último minuto de uma brincadeira bem quente e não sabemos que a qualquer momento pode chegar um mais velho a avisar que a brincadeira já acabou e está na hora de jantar. A vida afinal acontece muito de repente — nunca ninguém nos avisou que aquele era mesmo o último Carnaval da Vitória. O Carnaval também chegava sempre de repente. Nós, as crianças, vivíamos num tempo fora do tempo, sem nunca sabermos dos calendários de verdade. [...] O “dia da véspera do Carnaval”, como dizia a avó Nhé, era dia de confusão com roupas e pinturas a serem preparadas, sonhadas e inventadas. Mas quando
acontecia era um dia rápido, porque os dias mágicos passam depressa deixando marcas fundas na nossa memória, que alguns chamam também de coração.
ONDJAKI. Os da minha rua. Rio de Janeiro: Língua Geral, 2007.
As significações afetivas engendradas no fragmento pressupõem o reconhecimento da
Hino à Bandeira
Em teu seio formoso retratas
Este céu de puríssimo azul,
A verdura sem par destas matas,
E o esplendor do Cruzeiro do Sul.
Contemplando o teu vulto sagrado,
Compreendemos o nosso dever,
E o Brasil por seus filhos amado,
Poderoso e feliz há de ser!
Sobre a imensa Nação Brasileira,
Nos momentos de festa ou de dor,
Paira sempre sagrada bandeira
Pavilhão da justiça e do amor!
BILAC, O.; BRAGA, F. Disponível em: www2.planalto.gov.br.Acesso em: 10 dez. 2017 (fragmento).
No Hino à Bandeira, a descrição é um recurso utilizado para exaltar o símbolo nacional na medida em que
No anúncio sobre a proibição da venda de bebidas alcoólicas para menores, a linguagem formal interage com a linguagem informal quando o autor
Indústria cultural da felicidade
Tornou-se perigoso o emprego da palavra felicidade desde seu mau uso pela propaganda.Os que se negam a usá-la acreditam liberar os demais dos desvios das falsas necessidades,das bugigangas que se podem comprar em shoppings grã-finos ou em camelôs na beira da calçada, que, juntos, sustentam a indústria cultural da felicidade à qual foi reduzido o que,antes, era o ideal ético de uma vida justa. Infelicidade poderia ser o nome próprio desse novo estado da alma humana que se perdeu de si ao perder-se do sentido do que está a fazer. Desespero é um termo ainda mais agudo quando se trata da perda do sentido das ações pela perda da capacidade de reflexão sobre o que se faz. A felicidade publicitária está ao alcance dos dedos e não promete um depois. Resulta disso a massa de “desesperados” trafegando como zumbis nos shoppings e nas farmácias do país em busca de alento.
TIBURI, M. Disponível em: http://revistacult.uol.com.br. Acesso em: 12 nov. 2014 (adaptado).
Ao reprovar a ação da indústria da felicidade e um comportamento humano, o texto associa a
A Em Forma é uma revista destinada às mulheres, às expectativas de consumo que podem ser produzidas ou que se encontram no horizonte de uma feminilidade urbana contemporânea impelida à disputa no mercado afetivo masculino (as mulheres da Em Forma
são jovens e heterossexuais). A Em Forma tem como conteúdo central de suas reportagens dietas e séries de exercícios, fármacos para a pele e o cabelo, com fins de embelezamento do corpo e cuidados com a saúde, e reportagens com temas de autoajuda. Ela organiza-se em seções específicas: 1. Fitness ; 2. Beleza; 3. Dieta e nutrição; 4. Bem-estar; e 5. Especial. Além dessas seções, apresenta sempre uma reportagem com a “Garota da capa” e outras minisseções que veiculam conteúdos similares aos das seções fixas.
ALBINO, B. S.; VAZ, A. F. O corpo e as técnicas para o embelezamento feminino.
Movimento, n. 1, 2008 (adaptado).
Considerando-se as expectativas sobre as feminilidades produzidas pela mídia, na revista mencionada a prática de exercícios tem corroborado para a construção de uma feminilidade
A masculinidade, assim como a feminilidade, é uma construção histórica e cultural. Em nossa cultura, a dança caracteriza-se, no sentido geral, como um universo predominantemente feminino. Homens que dançam são geralmente considerados homossexuais, por não se enquadrarem dentro das normas culturais hegemônicas de gênero e sexualidade. Por outro lado, demonstram a não existência de um único tipo de masculinidade, enfatizando que as identidades humanas são múltiplas e plurais. No contexto da dança, as representações hegemônicas de gênero e as regulações sociais que essas impõem não se manifestam de forma igual em todas as modalidades de dança. Persiste essa forte representação cultural ocidental que associa o balé à feminilidade e à homossexualidade. Em outras danças, ela não se revela tão forte, e os homens não aparecem em menor número, como nas tradicionais danças folclóricas ou no moderno hip hop.
ANDREOLI, G. S. Representações de masculinidade na dança contemporânea.Movimento, n. 1, 2011 (adaptado).
No que tange à identidade de gênero masculina, a dança e suas modalidades expressam o(a)
Como o preconceito contribui para o aumento da epidemia de aids
Apesar dos avanços da medicina, a mentalidade em relação à aids e ao HIV continua na década de 1980.
O último Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde, de 2016, mostrou que os casos de HIV entre os jovens no Brasil aumentaram consideravelmente. O problema avançou:das 32 321 novas infecções por HIV registradas em 2015, 24,8% aconteceram com pessoas entre 15 e 24 anos.
Muitos apontam como causa o fato de que os adolescentes não conviveram com o auge da epidemia. Mas, para os especialistas, a questão é bem mais complexa. “Continuamos com essa visão hipócrita de que falar sobre sexo incita os mais jovens, e não damos ferramentas para que eles tomem decisões mais seguras em relação à sexualidade”, afirma Georgiana Braga-Orillard, diretora do Unaids, programa conjunto da ONU sobre HIV e aids,que tem como meta acabar com a epidemia até 2030.
A questão do preconceito não pode ser separada de uma síndrome estigmatizante como a aids. Leis como a que garante o tratamento gratuito pelo SUS e a que penaliza atos de discriminação ajudam, mas não são suficientes para mudar a mentalidade da sociedade, que ainda enxerga quem vive com o vírus como um “merecedor”. Além disso, o acesso à saúde e à orientação não é igual para todos.
Disponível em: http://revistaplaneta.terra.com.br. Acesso em: 2 set. 2017 (adaptado).
Essa reportagem discute o preconceito de não se falar abertamente sobre sexo com os maisjovens como um fator responsável pelo avanço do número de casos de aids no Brasil. A estratégia usada pelo repórter para tentar desconstruir esse preconceito é
Nessa simulação de verbete de dicionário, não há a predominância da função metalinguísticada linguagem, como seria de se esperar. Identificam-se elementos que subvertem o gêneropor meio da incorporação marcante de características da função
Estudo da FGV mostra que robôs infestam debate político no Brasil
Um estudo divulgado pela Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas afirma que perfis automatizados em redes sociais já são usados em larga escala no debate político no Brasil — e não para aprimorá-lo. Segundo a pesquisa, esses robôs “se converteram em uma potencial ferramenta para a manipulação de debates nas redes sociais”.
“Nas discussões políticas, os robôs têm sido usados por todo o espectro partidário não apenas para conquistar seguidores, mas também para conduzir ataques a opositores e forjar discussões artificiais. Eles manipulam debates, criam e disseminam notícias falsas e influenciam a opinião pública, postando e replicando mensagens em larga escala. O estudo demonstra de forma clara o potencial danoso dessa prática para a disputa política e o debate público”, diz o diretor da FGV/DAPP, Marco Aurélio Ruediger.
O estudo conclui que os robôs buscam imitar o comportamento humano e se passar comotal, de maneira a interferir em debates espontâneos e criar discussões forjadas. “Com esse tipo de manipulação, os robôs criam a falsa sensação de amplo apoio político a certa proposta,ideia ou figura pública.”
Para a FGV, a participação ostensiva de robôs no ambiente virtual tornou urgente a necessidade de identificar suas atividades e, consequentemente, diferenciar quais debates são legítimos e quais são forjados
GROSSMANN, L. O. Disponível em: www.convergenciadigital.com.br. Acesso em: 25 ago. 2017.
O texto descreve características de uma tecnologia de informação e comunicação contemporânea, que têm se mostrado difíceis de identificar por causa da utilização de
Cartas se caracterizam por serem textos efêmeros, inscritas no tempo de sua produção e escritas, muitas vezes, no papel que se tem à mão. Por isso, frequentemente, salvo um esforço dos próprios missivistas ou de terceiros, preocupados em preservá-las, facilmente desaparecem, seja pelo corriqueiro de seu conteúdo, seja pela sua fragilidade material. Nem sempre é assim, porém. Temos assistido, nestas duas décadas do século XXI, a um grande interesse pelas chamadas écritures du moi (“escritas do eu”, na expressão de Georges Gusdorf): nunca se estudaram tantas memórias, diários, cartas, quanto nesses últimos tempos. Publicações de memórias, diários, cartas sempre houve. Estudos, no entanto, que os enxergassem como objetos de pesquisa, e não como auxiliares para a interpretação da obra de um escritor, como protagonistas, e não como coadjuvantes, eram raros.
Nesse sentido, engana-se quem abre o volume Cartas provincianas: correspondência entre Gilberto Freyre e Manuel Bandeira, lançado pela Global Editora, e julga deparar-se apenas com um livro de cartas. A organizadora preocupou-se em contextualizar cada uma das 68 cartas, em um trabalho cuidadoso e por menorizado de reconstituição das condições deprodução de cada uma delas, um verdadeiro resgate.
TIN, E. Diálogos intermitentes.Pesquisa Fapesp, n. 259, set. 2017.
De acordo com o texto, o gênero carta tem assumido a função social de material de cunhocientífico por
Considerando-se os contextos de uso de “Todas chora”, essa expressão é um exemplo de variante linguística
Refletindo sobre as relações de gênero nas brincadeiras infantis, a estória mostra que