Ir para o conteúdo principal

Galinha cega

O dono correu atrás de sua branquinha, agarrou-a,

lhe examinou os olhos. Estavam direitinhos, graças a

Deus, e muito pretos. Soltou-a no terreiro e lhe atirou mais

milho. A galinha continuou a bicar o chão desorientada.

Atirou ainda mais, com paciência, até que ela se fartasse.

Mas não conseguiu com o gasto de milho, de que as

outras se aproveitaram, atinar com a origem daquela

desorientação. Que é que seria aquilo, meu Deus do

céu? Se fosse efeito de uma pedrada na cabeça e se

soubesse quem havia mandado a pedra, algum moleque

da vizinhança, aí… Nem por sombra imaginou que era a

cegueira irremediável que principiava.

Também a galinha, coitada, não compreendia nada,

absolutamente nada daquilo. Por que não vinham mais

os dias luminosos em que procurava a sombra das

pitangueiras? Sentia ainda o calor do sol, mas tudo quase

sempre tão escuro. Quase que já não sabia onde é que

estava a luz, onde é que estava a sombra.

Ao apresentar uma cena em que um menino atira milho

às galinhas e observa com atenção uma delas, o narrador

explora um recurso que conduz a uma expressividade

fundamentada na

© Aprova Concursos - Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1482 - Curitiba, PR - 0800 727 6282