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Da timidez

Ser um tímido notório é uma contradição. O tímido tem

horror a ser notadom quanto mais a ser notório. Se ficou

notório por ser tímido, então tem que se explicar. Afinal,

que retumbante timidez é essa, que atrai tanta atenção?

Se ficou notório apesar de ser tímido, talvez estivesse se

enganando junto com os outros e sua timidez seja apenas

um estratagema para ser notado. Tão secreto que nem

ele sabe. É como no paradoxo psicanalítico, só alguém

que se acha muito superior procura o analista para tratar

um complexo de inferioridade, porque só ele acha que se

sentir inferior é doença.

[...]

O tímido tenta se convencer de que só tem problemas

com multidões, mas isto não é vantagem. Para o tímido,

duas pessoas são uma multidão. Quando não consegue

escapar e se vê diante de uma plateia, o tímido não pensa

nos membros da plateia como indivíduos. Multiplica-os

por quatro, pois cada indivíduo tem dois olhos e dois

ouvidos. Quatro vias, portanto, para receber suas gafes.

Não adianta pedir para a plateia fechar os olhos, ou tapar

um olho e um ouvido para cortar o desconforto do tímido

pela metade. Nada adianta. O tímido, em suma, é uma

pessoa convencida de que é o centro do Universo, e que

seu vexame ainda será lembrado quando as estrelas

virarem pó.

VERISSIMO, L. F. Comédias para se ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001

Entre as estratégias de progressão textual presentes

nesse trecho, identifica-se o emprego de elementos

conectores. Os elementos que evidenciam noções

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