A carreira do crime
Estudo feito por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz sobre adolescentes recrutados
pelo tráfico de drogas nas favelas
cariocas expõe as bases sociais dessas quadrilhas, contribuindo para explicar as
dificuldades que o Estado enfrenta no
combate ao crime organizado.
O tráfico oferece ao jovem de escolaridade precária (nenhum dos entrevistados havia
completado o ensino fundamental)
um plano de carreira bem estruturado, com salários que variam de R$ 400,00 a R$ 12.000
mensais.
Para uma base de comparação, convém notar que, segundo dados do IBGE de 2001, 59% da
população brasileira com
mais de dez anos que declara ter uma atividade remunerada ganha no máximo o piso
salarial oferecido pelo crime.
Dos traficantes ouvidos pela pesquisa, 25% recebiam mais de R$ 2.000 mensais; já na
população brasileira essa taxa
não ultrapassa 6%.
Tais rendimentos mostram que as políticas sociais compensatórias, como o Bolsa-Escola
(que paga R$ 15 mensais por aluno
matriculado), são por si só incapazes de impedir que o narcotráfico continue aliciando
crianças provenientes de estratos de
baixa renda: tais políticas aliviam um pouco o orçamento familiar e incentivam os pais
a manterem os filhos estudando,
o que de modo algum impossibilita a opção pela deliquência. No mesmo sentido, os
programas voltados aos jovens
vulneráveis ao crime organizado ( circo-escola, oficinas de cultura, escolinhas de
futebol) são importantes, mas não resolvem
o problema.
A única maneira de reduzir a atração exercida pelo tráfico é a repressão, que aumenta
os riscos para os que escolhem
esse caminho. Os rendimentos pagos aos adolescentes provam isso: eles são elevados
precisamente porque a possibilidade
de ser preso não é desprezível. É preciso que o Executivo federal e os estaduais
desmontem as organizações paralelas
erguidas pelas quadrilhas, para que a certeza de punição elimine o fascínio dos
salários do crime.
Editorial. Folha de São Paulo. 15 jan. 2003.
Com base nos argumentos do autor, o texto aponta para