Tomás de Aquino dá começo à Suma contra os Gentios, fazendo suas as palavras de Hilário de
Pointers: “Sei que devo a Deus, como principal dever de minha vida, que todas as minhas palavras
e meus sentidos falem d’Ele.” Deus, e não o homem ou o mundo, é o objeto primeiro de suas
reflexões. Só no contexto da revelação é possível construir uma correta reflexão sobre o homem e o
mundo. Quando se fala da filosofia tomasiana, há que se considerarem alguns elementos que são
chaves de leitura da estrutura básica do pensamento deste autor medieval, dentre elas as famosas
cinco vias para demonstrar a existência de Deus. Identifique, dentre os itens abaixo, o que não
pertence a este núcleo de demonstração tomasiana:
I. “Existem algumas verdades que superam todos os poderes da razão humana, por exemplo, que Deus é uno
e trino. Há outras verdades às que se pode chegar através da razão natural, por exemplo, que Deus existe, que
Deus é uno, e outras semelhantes”.
II. “As criaturas, ao participar no ser de Deus, em parte se assemelham e em parte não. Não há identidade
entre Deus e as criaturas, porém tampouco existe uma equivocidade, porque sua imagem se reflete no mundo.
Entre Deus e as criaturas existe, pois, semelhança e dessemelhança, ou em outras palavras, uma relação de
analogia, no sentido de que o que se predica das criaturas se pode predicar de Deus, porém não do mesmo
modo nem com a mesma intensidade”.
III. “Efetivamente, é certo e consta em nossos sentidos que neste mundo mudam algumas coisas. Neste
sentido, tudo o que muda está movido por outro, porque uma coisa não muda se não é em potência aquilo no
que acaba em mudança, e pelo contrário, move (é dizer, provoca uma mudança) na medida em que é ato. (...) É
impossível, pois que segundo o mesmo aspecto e do mesmo modo um ente seja origem e sujeito da mudança
(movens et motum), ou seja, que se mova a si mesmo. Portanto, tudo o que se move deve ser movido por outro.
(...) É preciso, pois um primum movens quod in nullo moveatur, isto é, a existência de um imutável...”.
IV. “Na natureza achamos coisas que é possível que sejam e não sejam, porque nos encontramos com que se
engendram e se corrompem, e, por conseguinte, tanto lhes é possível ser como não ser. Porém, é impossível
que existam sempre, porque o que pode não ser, em algum momento não é. Por isso, se tudo pudesse não ser,
em algum momento não haveria existido nada (...). Assim, se em algum momento não houvesse existido nada,
seria impossível que uma coisa qualquer houvesse começado a existir e, portanto, tampouco agora existiria
nada, o que é impossível. (...) Em consequência, não podemos deixar de admitir a existência de um ente que
possua em si mesmo a própria necessidade e que não a receba de nenhum outro, e sim que também cause em
outras coisas sua própria necessidade...”.
V. “Vemos que as coisas que carecem da consciência, como os corpos naturais, atuam segundo uma
finalidade, e isto se faz patente pelo fato de que atuam sempre, ou quase sempre, do mesmo modo, para obter
melhores resultados. Portanto, se aprecia com qualidade que alcançam seu propósito não por azar, mas de
maneira intencionada. Neste sentido, tudo o que não tem conhecimento não pode mover-se para um fim, a
menos que esteja dirigido por algum ente dotado de conhecimento e inteligência, como a flecha está dirigida
pelo arqueiro. Por isso, existe um ser inteligente que dirige todas as coisas naturais para seu próprio fim...”.