Melisso de Samos sistematizou a doutrina eleática com uma prosa clara e procedente com rigor
dedutivo, corrigindo-a também em alguns pontos: em primeiro lugar, afirmou que o ser devia ser
infinito (e não finito, como dizia Parmênides) porque não tem limites temporais nem espaciais e
porque, se fosse finito, deveria limitar-se com o vazio, quer dizer, com um não-ser, o que é
impossível. Na medida em que é infinito, o ser é, também, necessariamente uno. Além desta
discordância de Melisso em relação a Parmênides, também se pode afirmar deste filósofo de
Samos:
I. Outro ponto no qual Melisso de Samos retificou a Parmênides consiste na eliminação total da esfera da
opinião, mediante uma reflexão de notável audácia especulativa.
II. Melisso afirmava que as múltiplas coisas, das que os sentidos parecem dar testemunho, existiriam na
realidade e nosso conhecimento sensível seria veraz, com uma condição: cada uma destas coisas haveria de
permanecer sempre tal como se nos apareceu a primeira vez, isto é, com a condição de que cada coisa
permanecesse sempre idêntica e imutável como o Ser-Uno.
III. Sobre a base mesma do nosso conhecimento empírico, constatamos que as múltiplas coisas que são
objeto de percepção sensível nunca permanecem idênticas: modificam-se, alternam-se, corrompem-se
continuamente, de maneira muito diferente ao que exigiria o estatuto do ser e da verdade. Em consequência,
há uma contradição entre o que, por um lado, reconhece a razão como condição absoluta do ser e da verdade
e, por outro lado, o que testemunham os sentidos e a experiência.
IV. Melisso afrontou decididamente as refutações elaboradas pelos adversários e os intentos de ridicularizar a
Parmênides. O procedimento que utilizou consistia em demonstrar que as consequências derivadas dos
argumentos construídos para refutar a Parmênides eram ainda mais contraditórias e ridículas que as teses que
pretendiam rechaçar. Ele descobriu, com isso, a refutação da refutação, vale dizer, a demonstração mediante
o absurdo.
V. Melisso elimina a contradição mediante a negação da validade dos sentidos e do que os sentidos
proclamam (em essência, porque os sentidos proclamam o não-ser), em exclusivo benefício do que proclama
a razão. A única realidade, pois, consiste no Ser-Uno: o hipoteticamente múltiplo só poderia existir se fosse
como Ser-Uno. Se os muitos existissem, deveria ser cada um como é o Uno.