“BOMBEIRO HERÓI”
O relógio marcava 18h30min e a escuridão era total na cidade completamente alagada de Eldorado do Sul, no Rio Grande do Sul. Por conta das enchentes, toda a distribuição de energia foi interrompida. No telefone, a voz desesperada da filha pede para que os bombeiros resgatem a mãe dela, que está acamada e inconsciente dentro da casa tomada pela água. Cada minuto era crucial porque o nível da água subia constantemente e deixava a situação ainda mais dramática.
A filha não estava no mesmo imóvel, mas acionou o resgate após ouvir da cuidadora da mãe que a água na rua já estava na altura da cintura. Assim que recebeu o chamado, Rudinei Silva dos Santos, comandante dos bombeiros voluntários de Eldorado do Sul, apanhou uma lanterna, vestiu uma roupa de mergulho e partiu com um barco a remo com sua equipe para o resgate que durou cerca de duas horas. Rudinei, cuja casa também ficou debaixo d’água, relatou o que passou nesse episódio da tragédia das inundações.
“(...) Quando a gente recebe um chamado, a gente já vai imaginando todas as situações com que a gente pode se deparar, qual é o tipo de equipamento que a gente pode levar, quais as pessoas de que a gente necessita. De quantos bombeiros a gente vai precisar no local, se a embarcação consegue chegar e se vamos precisar de uma viatura leve ou pesada.
Na triagem via telefone com a filha dessa pessoa, que estava em outra cidade, vimos que ela não sabia exatamente como estava a situação, o que é mais uma questão que a gente tem que levar em consideração. Porque a informação que ela está nos passando por telefone não é de quem está no local, então isso pode ser uma coisa boa ou pode ser uma surpresa que talvez faça com que a gente perca um pouco de tempo, pois a gente não sabe exatamente qual a magnitude e grandeza desse atendimento.
Mas como a pessoa nos relatou que a mãe dela, no caso, era uma pessoa de idade em estado terminal, sem movimentos e dependente de uma cuidadora que também já tinha certa idade, ela não conseguiria ir para um local mais seguro sozinha. Nessas condições, fomos até o local. (...)
Fomos remando até a casa. Nos identificamos como bombeiros e entrei primeiro para verificar a situação. A gente faz uma análise de toda a cinemática e aí retornamos para a equipe. Como a gente verificou que seria possível passar o colchão pela porta onde ela estava, entramos e deixamos o barco ancorado próximo à entrada da casa. Quando chegamos ao local, a altura da água já estava encostando no colchão e ele já estava flutuando um pouco. (...)
A vítima era uma senhora, que tinha em torno de 70 anos e se alimentava por sonda, além de não se movimentar. Pelo tempo acamada, tinha os membros muito enrijecidos, o que não facilitava a mobilidade. A gente teve que colocar um cobertor por baixo dela, com muito cuidado, vários bombeiros que estavam submersos a suspenderam. Colocamos ela em cima do colchão novamente e fomos puxando o colchão sobre a água, cuidando para que ele não afundasse.
O desafio seguinte foi passar pela porta porque ela era bem estreita. Então apertamos um pouco a lateral do colchão para que ele dobrasse levemente e pudesse passar. Com todo o cuidado, a gente fez esse movimento de lateralização sempre com cuidado com o tubo de oxigênio dela. Levá-la de barco até o hospital também foi um desafio, um desafio colocá-la em cima do barco. Sem dizer que esse não é o meio mais adequado para fazer o transporte de uma vítima com essa necessidade. Fizemos o caminho até a ambulância, que nos aguardava numa área seca, com muito cuidado, pois tudo estava completamente escuro, e as águas turbulentas.
(...) Foi perigoso e bem complexo. Demandou bastante trabalho da equipe. Foram cinco bombeiros envolvidos, além da equipe da ambulância. (...) Sem dúvida, as enchentes foram a maior ocorrência que a gente já enfrentou. (...)”
FELIPE SOUZA e FERNANDO OTTO
Adaptado de bbc.com, 16/05/2024.
Rudinei, cuja casa também ficou debaixo d’água, relatou o que passou nesse episódio da tragédia das inundações. (l. 9-10)
No período acima, a oração sublinhada apresenta um dos conteúdos selecionados para compor a notícia.
A classificação dessa oração e uma justificativa para sua inserção na notícia estão apresentadas em:
COMO SE A VIDA FOSSE LITERATURA
A nossa vida poderia ser melhor, se olhássemos para ela como um escritor olha para um romance em construção.
Quando um escritor inicia um romance, esforça-se por encarar o mundo − aquele mundo que ali se começa a desenhar − através dos olhos de diferentes personagens. É um exercício de alteridade que, sendo praticado de forma regular, desenvolve os músculos da empatia. Imagino que se fizéssemos isto no nosso dia a dia talvez nos irritássemos menos com os outros. Ao mesmo tempo, abrindo-nos às opiniões alheias, e repensando as próprias, certamente seríamos melhores pessoas.
Além disso, um escritor não julga os seus personagens. O escritor tenta compreendê-los. Também esta regra, aplicada à vida verdadeira − admitindo que a literatura é uma vida menos verdadeira −, traria benefícios para todos.
Aqueles escritores que se guiam pela intuição sabem que não se pode forçar um personagem a seguir por um determinado caminho; melhor deixá-lo escolher seu próprio destino, e depois tentar acompanhá-lo. Também na vida, convém aceitar que o livre-arbítrio tem limites. Por vezes, somos empurrados para atalhos imprevistos − e isso pode ser ótimo. A surpresa é o sal da vida. Sim, eu sei que surpresa a mais pode provocar hipertensão, parada cardíaca e até AVC. Mas uma vida sem uma certa dose de espanto, convenhamos, não só não tem gosto nenhum como se traduz em cansaço, tédio e confusão mental.
Os escritores esforçam-se, ao longo dos anos, por criar um estilo único. Se tiverem sorte conseguem isso a partir do momento em que deixam de se esforçar, perdem o receio de repetir modelos e passam simplesmente a fruir a escrita. Na vida real também só alcançamos uma identidade própria depois que deixamos de nos preocupar com aquilo que os outros pensam.
Na literatura, aprendemos cedo a cortar adjetivos. Aliás, passamos mais tempo a cortar do que a escrever. A hiperadjetivação é uma doença infantil do escritor. Na vida, aprender a prescindir, tanto de bens quanto de ornamentos, e a valorizar o essencial é meio caminho andado para a felicidade. Ou, se não para a felicidade, ao menos para a elegância.
Escrever exige paixão. Viver também. Escrever implica disciplina. Viver também. Claro que é possível viver com paixão, e sem disciplina. Infelizmente, pessoas assim vivem pouco tempo. E é possível viver com disciplina, e sem paixão − mas não vale a pena.
A literatura, reconheço, tem algumas vantagens relativamente à vida. Por exemplo, ao escritor resta sempre a possibilidade de assassinar, de muitas maneiras terríveis, um personagem desagradável ou irritante, sem jamais ser incomodado pela polícia. Um romancista pode até inspirar-se num inimigo da vida real e colocá-lo nas páginas de um livro. Vejo isto como uma espécie de vodu literário. Em vez de espetarmos agulhas num boneco de pano, torturamos um personagem, esperando que, por magia, a dor fictícia se transmita ao sujeito que o inspirou. Nem sempre tem resultado. Tentei a experiência uma única vez. Surpreendentemente, o meu desafeto sentiu-se lisonjeado, agradeceu imenso, e a partir dali ficamos bons amigos.
JOSÉ EDUARDO AGUALUSA
Adaptado de oglobo.globo.com, 16/12/2023.
Na crônica, o autor lança mão do recurso de simular uma conversa.
Essa simulação está evidenciada em:
COMO SE A VIDA FOSSE LITERATURA
A nossa vida poderia ser melhor, se olhássemos para ela como um escritor olha para um romance em construção.
Quando um escritor inicia um romance, esforça-se por encarar o mundo − aquele mundo que ali se começa a desenhar − através dos olhos de diferentes personagens. É um exercício de alteridade que, sendo praticado de forma regular, desenvolve os músculos da empatia. Imagino que se fizéssemos isto no nosso dia a dia talvez nos irritássemos menos com os outros. Ao mesmo tempo, abrindo-nos às opiniões alheias, e repensando as próprias, certamente seríamos melhores pessoas.
Além disso, um escritor não julga os seus personagens. O escritor tenta compreendê-los. Também esta regra, aplicada à vida verdadeira − admitindo que a literatura é uma vida menos verdadeira −, traria benefícios para todos.
Aqueles escritores que se guiam pela intuição sabem que não se pode forçar um personagem a seguir por um determinado caminho; melhor deixá-lo escolher seu próprio destino, e depois tentar acompanhá-lo. Também na vida, convém aceitar que o livre-arbítrio tem limites. Por vezes, somos empurrados para atalhos imprevistos − e isso pode ser ótimo. A surpresa é o sal da vida. Sim, eu sei que surpresa a mais pode provocar hipertensão, parada cardíaca e até AVC. Mas uma vida sem uma certa dose de espanto, convenhamos, não só não tem gosto nenhum como se traduz em cansaço, tédio e confusão mental.
Os escritores esforçam-se, ao longo dos anos, por criar um estilo único. Se tiverem sorte conseguem isso a partir do momento em que deixam de se esforçar, perdem o receio de repetir modelos e passam simplesmente a fruir a escrita. Na vida real também só alcançamos uma identidade própria depois que deixamos de nos preocupar com aquilo que os outros pensam.
Na literatura, aprendemos cedo a cortar adjetivos. Aliás, passamos mais tempo a cortar do que a escrever. A hiperadjetivação é uma doença infantil do escritor. Na vida, aprender a prescindir, tanto de bens quanto de ornamentos, e a valorizar o essencial é meio caminho andado para a felicidade. Ou, se não para a felicidade, ao menos para a elegância.
Escrever exige paixão. Viver também. Escrever implica disciplina. Viver também. Claro que é possível viver com paixão, e sem disciplina. Infelizmente, pessoas assim vivem pouco tempo. E é possível viver com disciplina, e sem paixão − mas não vale a pena.
A literatura, reconheço, tem algumas vantagens relativamente à vida. Por exemplo, ao escritor resta sempre a possibilidade de assassinar, de muitas maneiras terríveis, um personagem desagradável ou irritante, sem jamais ser incomodado pela polícia. Um romancista pode até inspirar-se num inimigo da vida real e colocá-lo nas páginas de um livro. Vejo isto como uma espécie de vodu literário. Em vez de espetarmos agulhas num boneco de pano, torturamos um personagem, esperando que, por magia, a dor fictícia se transmita ao sujeito que o inspirou. Nem sempre tem resultado. Tentei a experiência uma única vez. Surpreendentemente, o meu desafeto sentiu-se lisonjeado, agradeceu imenso, e a partir dali ficamos bons amigos.
JOSÉ EDUARDO AGUALUSA
Adaptado de oglobo.globo.com, 16/12/2023.
O texto 1 compõe um gênero jornalístico e o texto 2 é uma crônica literária.
Apesar de serem gêneros textuais diferentes, em seus propósitos e circulação na sociedade, um aspecto da linguagem que os aproxima é:
“BOMBEIRO HERÓI”
O relógio marcava 18h30min e a escuridão era total na cidade completamente alagada de Eldorado do Sul, no Rio Grande do Sul. Por conta das enchentes, toda a distribuição de energia foi interrompida. No telefone, a voz desesperada da filha pede para que os bombeiros resgatem a mãe dela, que está acamada e inconsciente dentro da casa tomada pela água. Cada minuto era crucial porque o nível da água subia constantemente e deixava a situação ainda mais dramática.
A filha não estava no mesmo imóvel, mas acionou o resgate após ouvir da cuidadora da mãe que a água na rua já estava na altura da cintura. Assim que recebeu o chamado, Rudinei Silva dos Santos, comandante dos bombeiros voluntários de Eldorado do Sul, apanhou uma lanterna, vestiu uma roupa de mergulho e partiu com um barco a remo com sua equipe para o resgate que durou cerca de duas horas. Rudinei, cuja casa também ficou debaixo d’água, relatou o que passou nesse episódio da tragédia das inundações.
“(...) Quando a gente recebe um chamado, a gente já vai imaginando todas as situações com que a gente pode se deparar, qual é o tipo de equipamento que a gente pode levar, quais as pessoas de que a gente necessita. De quantos bombeiros a gente vai precisar no local, se a embarcação consegue chegar e se vamos precisar de uma viatura leve ou pesada.
Na triagem via telefone com a filha dessa pessoa, que estava em outra cidade, vimos que ela não sabia exatamente como estava a situação, o que é mais uma questão que a gente tem que levar em consideração. Porque a informação que ela está nos passando por telefone não é de quem está no local, então isso pode ser uma coisa boa ou pode ser uma surpresa que talvez faça com que a gente perca um pouco de tempo, pois a gente não sabe exatamente qual a magnitude e grandeza desse atendimento.
Mas como a pessoa nos relatou que a mãe dela, no caso, era uma pessoa de idade em estado terminal, sem movimentos e dependente de uma cuidadora que também já tinha certa idade, ela não conseguiria ir para um local mais seguro sozinha. Nessas condições, fomos até o local. (...)
Fomos remando até a casa. Nos identificamos como bombeiros e entrei primeiro para verificar a situação. A gente faz uma análise de toda a cinemática e aí retornamos para a equipe. Como a gente verificou que seria possível passar o colchão pela porta onde ela estava, entramos e deixamos o barco ancorado próximo à entrada da casa. Quando chegamos ao local, a altura da água já estava encostando no colchão e ele já estava flutuando um pouco. (...)
A vítima era uma senhora, que tinha em torno de 70 anos e se alimentava por sonda, além de não se movimentar. Pelo tempo acamada, tinha os membros muito enrijecidos, o que não facilitava a mobilidade. A gente teve que colocar um cobertor por baixo dela, com muito cuidado, vários bombeiros que estavam submersos a suspenderam. Colocamos ela em cima do colchão novamente e fomos puxando o colchão sobre a água, cuidando para que ele não afundasse.
O desafio seguinte foi passar pela porta porque ela era bem estreita. Então apertamos um pouco a lateral do colchão para que ele dobrasse levemente e pudesse passar. Com todo o cuidado, a gente fez esse movimento de lateralização sempre com cuidado com o tubo de oxigênio dela. Levá-la de barco até o hospital também foi um desafio, um desafio colocá-la em cima do barco. Sem dizer que esse não é o meio mais adequado para fazer o transporte de uma vítima com essa necessidade. Fizemos o caminho até a ambulância, que nos aguardava numa área seca, com muito cuidado, pois tudo estava completamente escuro, e as águas turbulentas.
(...) Foi perigoso e bem complexo. Demandou bastante trabalho da equipe. Foram cinco bombeiros envolvidos, além da equipe da ambulância. (...) Sem dúvida, as enchentes foram a maior ocorrência que a gente já enfrentou. (...)”
FELIPE SOUZA e FERNANDO OTTO
Adaptado de bbc.com, 16/05/2024.
No telefone, a voz desesperada da filha pede para que os bombeiros resgatem a mãe dela, que está acamada e inconsciente dentro da casa tomada pela água. (l. 2-4)
Na frase, o destaque à “voz” da filha constitui a seguinte figura de linguagem:
COMO SE A VIDA FOSSE LITERATURA
A nossa vida poderia ser melhor, se olhássemos para ela como um escritor olha para um romance em construção.
Quando um escritor inicia um romance, esforça-se por encarar o mundo − aquele mundo que ali se começa a desenhar − através dos olhos de diferentes personagens. É um exercício de alteridade que, sendo praticado de forma regular, desenvolve os músculos da empatia. Imagino que se fizéssemos isto no nosso dia a dia talvez nos irritássemos menos com os outros. Ao mesmo tempo, abrindo-nos às opiniões alheias, e repensando as próprias, certamente seríamos melhores pessoas.
Além disso, um escritor não julga os seus personagens. O escritor tenta compreendê-los. Também esta regra, aplicada à vida verdadeira − admitindo que a literatura é uma vida menos verdadeira −, traria benefícios para todos.
Aqueles escritores que se guiam pela intuição sabem que não se pode forçar um personagem a seguir por um determinado caminho; melhor deixá-lo escolher seu próprio destino, e depois tentar acompanhá-lo. Também na vida, convém aceitar que o livre-arbítrio tem limites. Por vezes, somos empurrados para atalhos imprevistos − e isso pode ser ótimo. A surpresa é o sal da vida. Sim, eu sei que surpresa a mais pode provocar hipertensão, parada cardíaca e até AVC. Mas uma vida sem uma certa dose de espanto, convenhamos, não só não tem gosto nenhum como se traduz em cansaço, tédio e confusão mental.
Os escritores esforçam-se, ao longo dos anos, por criar um estilo único. Se tiverem sorte conseguem isso a partir do momento em que deixam de se esforçar, perdem o receio de repetir modelos e passam simplesmente a fruir a escrita. Na vida real também só alcançamos uma identidade própria depois que deixamos de nos preocupar com aquilo que os outros pensam.
Na literatura, aprendemos cedo a cortar adjetivos. Aliás, passamos mais tempo a cortar do que a escrever. A hiperadjetivação é uma doença infantil do escritor. Na vida, aprender a prescindir, tanto de bens quanto de ornamentos, e a valorizar o essencial é meio caminho andado para a felicidade. Ou, se não para a felicidade, ao menos para a elegância.
Escrever exige paixão. Viver também. Escrever implica disciplina. Viver também. Claro que é possível viver com paixão, e sem disciplina. Infelizmente, pessoas assim vivem pouco tempo. E é possível viver com disciplina, e sem paixão − mas não vale a pena.
A literatura, reconheço, tem algumas vantagens relativamente à vida. Por exemplo, ao escritor resta sempre a possibilidade de assassinar, de muitas maneiras terríveis, um personagem desagradável ou irritante, sem jamais ser incomodado pela polícia. Um romancista pode até inspirar-se num inimigo da vida real e colocá-lo nas páginas de um livro. Vejo isto como uma espécie de vodu literário. Em vez de espetarmos agulhas num boneco de pano, torturamos um personagem, esperando que, por magia, a dor fictícia se transmita ao sujeito que o inspirou. Nem sempre tem resultado. Tentei a experiência uma única vez. Surpreendentemente, o meu desafeto sentiu-se lisonjeado, agradeceu imenso, e a partir dali ficamos bons amigos.
JOSÉ EDUARDO AGUALUSA
Adaptado de oglobo.globo.com, 16/12/2023.
abrindo-nos às opiniões alheias, e repensando as próprias, certamente seríamos melhores pessoas. (l. 6-7)
De acordo com o trecho, a opinião de uma pessoa, para ser de fato própria, deve ser objeto da seguinte atitude:
COMO SE A VIDA FOSSE LITERATURA
A nossa vida poderia ser melhor, se olhássemos para ela como um escritor olha para um romance em construção.
Quando um escritor inicia um romance, esforça-se por encarar o mundo − aquele mundo que ali se começa a desenhar − através dos olhos de diferentes personagens. É um exercício de alteridade que, sendo praticado de forma regular, desenvolve os músculos da empatia. Imagino que se fizéssemos isto no nosso dia a dia talvez nos irritássemos menos com os outros. Ao mesmo tempo, abrindo-nos às opiniões alheias, e repensando as próprias, certamente seríamos melhores pessoas.
Além disso, um escritor não julga os seus personagens. O escritor tenta compreendê-los. Também esta regra, aplicada à vida verdadeira − admitindo que a literatura é uma vida menos verdadeira −, traria benefícios para todos.
Aqueles escritores que se guiam pela intuição sabem que não se pode forçar um personagem a seguir por um determinado caminho; melhor deixá-lo escolher seu próprio destino, e depois tentar acompanhá-lo. Também na vida, convém aceitar que o livre-arbítrio tem limites. Por vezes, somos empurrados para atalhos imprevistos − e isso pode ser ótimo. A surpresa é o sal da vida. Sim, eu sei que surpresa a mais pode provocar hipertensão, parada cardíaca e até AVC. Mas uma vida sem uma certa dose de espanto, convenhamos, não só não tem gosto nenhum como se traduz em cansaço, tédio e confusão mental.
Os escritores esforçam-se, ao longo dos anos, por criar um estilo único. Se tiverem sorte conseguem isso a partir do momento em que deixam de se esforçar, perdem o receio de repetir modelos e passam simplesmente a fruir a escrita. Na vida real também só alcançamos uma identidade própria depois que deixamos de nos preocupar com aquilo que os outros pensam.
Na literatura, aprendemos cedo a cortar adjetivos. Aliás, passamos mais tempo a cortar do que a escrever. A hiperadjetivação é uma doença infantil do escritor. Na vida, aprender a prescindir, tanto de bens quanto de ornamentos, e a valorizar o essencial é meio caminho andado para a felicidade. Ou, se não para a felicidade, ao menos para a elegância.
Escrever exige paixão. Viver também. Escrever implica disciplina. Viver também. Claro que é possível viver com paixão, e sem disciplina. Infelizmente, pessoas assim vivem pouco tempo. E é possível viver com disciplina, e sem paixão − mas não vale a pena.
A literatura, reconheço, tem algumas vantagens relativamente à vida. Por exemplo, ao escritor resta sempre a possibilidade de assassinar, de muitas maneiras terríveis, um personagem desagradável ou irritante, sem jamais ser incomodado pela polícia. Um romancista pode até inspirar-se num inimigo da vida real e colocá-lo nas páginas de um livro. Vejo isto como uma espécie de vodu literário. Em vez de espetarmos agulhas num boneco de pano, torturamos um personagem, esperando que, por magia, a dor fictícia se transmita ao sujeito que o inspirou. Nem sempre tem resultado. Tentei a experiência uma única vez. Surpreendentemente, o meu desafeto sentiu-se lisonjeado, agradeceu imenso, e a partir dali ficamos bons amigos.
JOSÉ EDUARDO AGUALUSA
Adaptado de oglobo.globo.com, 16/12/2023.
o meu desafeto sentiu-se lisonjeado, agradeceu imenso, (l. 34)
A palavra “imenso”, tal como empregada no trecho, tem a mesma classificação do vocábulo sublinhado em:
“BOMBEIRO HERÓI”
O relógio marcava 18h30min e a escuridão era total na cidade completamente alagada de Eldorado do Sul, no Rio Grande do Sul. Por conta das enchentes, toda a distribuição de energia foi interrompida. No telefone, a voz desesperada da filha pede para que os bombeiros resgatem a mãe dela, que está acamada e inconsciente dentro da casa tomada pela água. Cada minuto era crucial porque o nível da água subia constantemente e deixava a situação ainda mais dramática.
A filha não estava no mesmo imóvel, mas acionou o resgate após ouvir da cuidadora da mãe que a água na rua já estava na altura da cintura. Assim que recebeu o chamado, Rudinei Silva dos Santos, comandante dos bombeiros voluntários de Eldorado do Sul, apanhou uma lanterna, vestiu uma roupa de mergulho e partiu com um barco a remo com sua equipe para o resgate que durou cerca de duas horas. Rudinei, cuja casa também ficou debaixo d’água, relatou o que passou nesse episódio da tragédia das inundações.
“(...) Quando a gente recebe um chamado, a gente já vai imaginando todas as situações com que a gente pode se deparar, qual é o tipo de equipamento que a gente pode levar, quais as pessoas de que a gente necessita. De quantos bombeiros a gente vai precisar no local, se a embarcação consegue chegar e se vamos precisar de uma viatura leve ou pesada.
Na triagem via telefone com a filha dessa pessoa, que estava em outra cidade, vimos que ela não sabia exatamente como estava a situação, o que é mais uma questão que a gente tem que levar em consideração. Porque a informação que ela está nos passando por telefone não é de quem está no local, então isso pode ser uma coisa boa ou pode ser uma surpresa que talvez faça com que a gente perca um pouco de tempo, pois a gente não sabe exatamente qual a magnitude e grandeza desse atendimento.
Mas como a pessoa nos relatou que a mãe dela, no caso, era uma pessoa de idade em estado terminal, sem movimentos e dependente de uma cuidadora que também já tinha certa idade, ela não conseguiria ir para um local mais seguro sozinha. Nessas condições, fomos até o local. (...)
Fomos remando até a casa. Nos identificamos como bombeiros e entrei primeiro para verificar a situação. A gente faz uma análise de toda a cinemática e aí retornamos para a equipe. Como a gente verificou que seria possível passar o colchão pela porta onde ela estava, entramos e deixamos o barco ancorado próximo à entrada da casa. Quando chegamos ao local, a altura da água já estava encostando no colchão e ele já estava flutuando um pouco. (...)
A vítima era uma senhora, que tinha em torno de 70 anos e se alimentava por sonda, além de não se movimentar. Pelo tempo acamada, tinha os membros muito enrijecidos, o que não facilitava a mobilidade. A gente teve que colocar um cobertor por baixo dela, com muito cuidado, vários bombeiros que estavam submersos a suspenderam. Colocamos ela em cima do colchão novamente e fomos puxando o colchão sobre a água, cuidando para que ele não afundasse.
O desafio seguinte foi passar pela porta porque ela era bem estreita. Então apertamos um pouco a lateral do colchão para que ele dobrasse levemente e pudesse passar. Com todo o cuidado, a gente fez esse movimento de lateralização sempre com cuidado com o tubo de oxigênio dela. Levá-la de barco até o hospital também foi um desafio, um desafio colocá-la em cima do barco. Sem dizer que esse não é o meio mais adequado para fazer o transporte de uma vítima com essa necessidade. Fizemos o caminho até a ambulância, que nos aguardava numa área seca, com muito cuidado, pois tudo estava completamente escuro, e as águas turbulentas.
(...) Foi perigoso e bem complexo. Demandou bastante trabalho da equipe. Foram cinco bombeiros envolvidos, além da equipe da ambulância. (...) Sem dúvida, as enchentes foram a maior ocorrência que a gente já enfrentou. (...)”
FELIPE SOUZA e FERNANDO OTTO
Adaptado de bbc.com, 16/05/2024.
O título do texto enfatiza o papel do comandante do resgate, enquanto o seu relato aponta de modo recorrente para o papel da equipe de bombeiros.
Um trecho que comprova essa afirmativa é:
COMO SE A VIDA FOSSE LITERATURA
A nossa vida poderia ser melhor, se olhássemos para ela como um escritor olha para um romance em construção.
Quando um escritor inicia um romance, esforça-se por encarar o mundo − aquele mundo que ali se começa a desenhar − através dos olhos de diferentes personagens. É um exercício de alteridade que, sendo praticado de forma regular, desenvolve os músculos da empatia. Imagino que se fizéssemos isto no nosso dia a dia talvez nos irritássemos menos com os outros. Ao mesmo tempo, abrindo-nos às opiniões alheias, e repensando as próprias, certamente seríamos melhores pessoas.
Além disso, um escritor não julga os seus personagens. O escritor tenta compreendê-los. Também esta regra, aplicada à vida verdadeira − admitindo que a literatura é uma vida menos verdadeira −, traria benefícios para todos.
Aqueles escritores que se guiam pela intuição sabem que não se pode forçar um personagem a seguir por um determinado caminho; melhor deixá-lo escolher seu próprio destino, e depois tentar acompanhá-lo. Também na vida, convém aceitar que o livre-arbítrio tem limites. Por vezes, somos empurrados para atalhos imprevistos − e isso pode ser ótimo. A surpresa é o sal da vida. Sim, eu sei que surpresa a mais pode provocar hipertensão, parada cardíaca e até AVC. Mas uma vida sem uma certa dose de espanto, convenhamos, não só não tem gosto nenhum como se traduz em cansaço, tédio e confusão mental.
Os escritores esforçam-se, ao longo dos anos, por criar um estilo único. Se tiverem sorte conseguem isso a partir do momento em que deixam de se esforçar, perdem o receio de repetir modelos e passam simplesmente a fruir a escrita. Na vida real também só alcançamos uma identidade própria depois que deixamos de nos preocupar com aquilo que os outros pensam.
Na literatura, aprendemos cedo a cortar adjetivos. Aliás, passamos mais tempo a cortar do que a escrever. A hiperadjetivação é uma doença infantil do escritor. Na vida, aprender a prescindir, tanto de bens quanto de ornamentos, e a valorizar o essencial é meio caminho andado para a felicidade. Ou, se não para a felicidade, ao menos para a elegância.
Escrever exige paixão. Viver também. Escrever implica disciplina. Viver também. Claro que é possível viver com paixão, e sem disciplina. Infelizmente, pessoas assim vivem pouco tempo. E é possível viver com disciplina, e sem paixão − mas não vale a pena.
A literatura, reconheço, tem algumas vantagens relativamente à vida. Por exemplo, ao escritor resta sempre a possibilidade de assassinar, de muitas maneiras terríveis, um personagem desagradável ou irritante, sem jamais ser incomodado pela polícia. Um romancista pode até inspirar-se num inimigo da vida real e colocá-lo nas páginas de um livro. Vejo isto como uma espécie de vodu literário. Em vez de espetarmos agulhas num boneco de pano, torturamos um personagem, esperando que, por magia, a dor fictícia se transmita ao sujeito que o inspirou. Nem sempre tem resultado. Tentei a experiência uma única vez. Surpreendentemente, o meu desafeto sentiu-se lisonjeado, agradeceu imenso, e a partir dali ficamos bons amigos.
JOSÉ EDUARDO AGUALUSA
Adaptado de oglobo.globo.com, 16/12/2023.
A tese central apresentada no texto do escritor angolano é defendida, principalmente, a partir do seguinte procedimento argumentativo:
“BOMBEIRO HERÓI”
O relógio marcava 18h30min e a escuridão era total na cidade completamente alagada de Eldorado do Sul, no Rio Grande do Sul. Por conta das enchentes, toda a distribuição de energia foi interrompida. No telefone, a voz desesperada da filha pede para que os bombeiros resgatem a mãe dela, que está acamada e inconsciente dentro da casa tomada pela água. Cada minuto era crucial porque o nível da água subia constantemente e deixava a situação ainda mais dramática.
A filha não estava no mesmo imóvel, mas acionou o resgate após ouvir da cuidadora da mãe que a água na rua já estava na altura da cintura. Assim que recebeu o chamado, Rudinei Silva dos Santos, comandante dos bombeiros voluntários de Eldorado do Sul, apanhou uma lanterna, vestiu uma roupa de mergulho e partiu com um barco a remo com sua equipe para o resgate que durou cerca de duas horas. Rudinei, cuja casa também ficou debaixo d’água, relatou o que passou nesse episódio da tragédia das inundações.
“(...) Quando a gente recebe um chamado, a gente já vai imaginando todas as situações com que a gente pode se deparar, qual é o tipo de equipamento que a gente pode levar, quais as pessoas de que a gente necessita. De quantos bombeiros a gente vai precisar no local, se a embarcação consegue chegar e se vamos precisar de uma viatura leve ou pesada.
Na triagem via telefone com a filha dessa pessoa, que estava em outra cidade, vimos que ela não sabia exatamente como estava a situação, o que é mais uma questão que a gente tem que levar em consideração. Porque a informação que ela está nos passando por telefone não é de quem está no local, então isso pode ser uma coisa boa ou pode ser uma surpresa que talvez faça com que a gente perca um pouco de tempo, pois a gente não sabe exatamente qual a magnitude e grandeza desse atendimento.
Mas como a pessoa nos relatou que a mãe dela, no caso, era uma pessoa de idade em estado terminal, sem movimentos e dependente de uma cuidadora que também já tinha certa idade, ela não conseguiria ir para um local mais seguro sozinha. Nessas condições, fomos até o local. (...)
Fomos remando até a casa. Nos identificamos como bombeiros e entrei primeiro para verificar a situação. A gente faz uma análise de toda a cinemática e aí retornamos para a equipe. Como a gente verificou que seria possível passar o colchão pela porta onde ela estava, entramos e deixamos o barco ancorado próximo à entrada da casa. Quando chegamos ao local, a altura da água já estava encostando no colchão e ele já estava flutuando um pouco. (...)
A vítima era uma senhora, que tinha em torno de 70 anos e se alimentava por sonda, além de não se movimentar. Pelo tempo acamada, tinha os membros muito enrijecidos, o que não facilitava a mobilidade. A gente teve que colocar um cobertor por baixo dela, com muito cuidado, vários bombeiros que estavam submersos a suspenderam. Colocamos ela em cima do colchão novamente e fomos puxando o colchão sobre a água, cuidando para que ele não afundasse.
O desafio seguinte foi passar pela porta porque ela era bem estreita. Então apertamos um pouco a lateral do colchão para que ele dobrasse levemente e pudesse passar. Com todo o cuidado, a gente fez esse movimento de lateralização sempre com cuidado com o tubo de oxigênio dela. Levá-la de barco até o hospital também foi um desafio, um desafio colocá-la em cima do barco. Sem dizer que esse não é o meio mais adequado para fazer o transporte de uma vítima com essa necessidade. Fizemos o caminho até a ambulância, que nos aguardava numa área seca, com muito cuidado, pois tudo estava completamente escuro, e as águas turbulentas.
(...) Foi perigoso e bem complexo. Demandou bastante trabalho da equipe. Foram cinco bombeiros envolvidos, além da equipe da ambulância. (...) Sem dúvida, as enchentes foram a maior ocorrência que a gente já enfrentou. (...)”
FELIPE SOUZA e FERNANDO OTTO
Adaptado de bbc.com, 16/05/2024.
pois tudo estava completamente escuro, e as águas turbulentas. (l. 38-39)
No trecho acima, o verbo de ligação entre o sujeito “as águas” e o predicativo “turbulentas” é omitido, recurso que confere agilidade à fala.
Esse recurso é conhecido como:
“BOMBEIRO HERÓI”
O relógio marcava 18h30min e a escuridão era total na cidade completamente alagada de Eldorado do Sul, no Rio Grande do Sul. Por conta das enchentes, toda a distribuição de energia foi interrompida. No telefone, a voz desesperada da filha pede para que os bombeiros resgatem a mãe dela, que está acamada e inconsciente dentro da casa tomada pela água. Cada minuto era crucial porque o nível da água subia constantemente e deixava a situação ainda mais dramática.
A filha não estava no mesmo imóvel, mas acionou o resgate após ouvir da cuidadora da mãe que a água na rua já estava na altura da cintura. Assim que recebeu o chamado, Rudinei Silva dos Santos, comandante dos bombeiros voluntários de Eldorado do Sul, apanhou uma lanterna, vestiu uma roupa de mergulho e partiu com um barco a remo com sua equipe para o resgate que durou cerca de duas horas. Rudinei, cuja casa também ficou debaixo d’água, relatou o que passou nesse episódio da tragédia das inundações.
“(...) Quando a gente recebe um chamado, a gente já vai imaginando todas as situações com que a gente pode se deparar, qual é o tipo de equipamento que a gente pode levar, quais as pessoas de que a gente necessita. De quantos bombeiros a gente vai precisar no local, se a embarcação consegue chegar e se vamos precisar de uma viatura leve ou pesada.
Na triagem via telefone com a filha dessa pessoa, que estava em outra cidade, vimos que ela não sabia exatamente como estava a situação, o que é mais uma questão que a gente tem que levar em consideração. Porque a informação que ela está nos passando por telefone não é de quem está no local, então isso pode ser uma coisa boa ou pode ser uma surpresa que talvez faça com que a gente perca um pouco de tempo, pois a gente não sabe exatamente qual a magnitude e grandeza desse atendimento.
Mas como a pessoa nos relatou que a mãe dela, no caso, era uma pessoa de idade em estado terminal, sem movimentos e dependente de uma cuidadora que também já tinha certa idade, ela não conseguiria ir para um local mais seguro sozinha. Nessas condições, fomos até o local. (...)
Fomos remando até a casa. Nos identificamos como bombeiros e entrei primeiro para verificar a situação. A gente faz uma análise de toda a cinemática e aí retornamos para a equipe. Como a gente verificou que seria possível passar o colchão pela porta onde ela estava, entramos e deixamos o barco ancorado próximo à entrada da casa. Quando chegamos ao local, a altura da água já estava encostando no colchão e ele já estava flutuando um pouco. (...)
A vítima era uma senhora, que tinha em torno de 70 anos e se alimentava por sonda, além de não se movimentar. Pelo tempo acamada, tinha os membros muito enrijecidos, o que não facilitava a mobilidade. A gente teve que colocar um cobertor por baixo dela, com muito cuidado, vários bombeiros que estavam submersos a suspenderam. Colocamos ela em cima do colchão novamente e fomos puxando o colchão sobre a água, cuidando para que ele não afundasse.
O desafio seguinte foi passar pela porta porque ela era bem estreita. Então apertamos um pouco a lateral do colchão para que ele dobrasse levemente e pudesse passar. Com todo o cuidado, a gente fez esse movimento de lateralização sempre com cuidado com o tubo de oxigênio dela. Levá-la de barco até o hospital também foi um desafio, um desafio colocá-la em cima do barco. Sem dizer que esse não é o meio mais adequado para fazer o transporte de uma vítima com essa necessidade. Fizemos o caminho até a ambulância, que nos aguardava numa área seca, com muito cuidado, pois tudo estava completamente escuro, e as águas turbulentas.
(...) Foi perigoso e bem complexo. Demandou bastante trabalho da equipe. Foram cinco bombeiros envolvidos, além da equipe da ambulância. (...) Sem dúvida, as enchentes foram a maior ocorrência que a gente já enfrentou. (...)”
FELIPE SOUZA e FERNANDO OTTO
Adaptado de bbc.com, 16/05/2024.
(1) Colocamos ela em cima do colchão novamente (l. 31)
(2) Nós a colocamos em cima do colchão novamente.
A diferença observada entre os enunciados acima exemplifica o fenômeno da variação linguística.
Uma explicação para tal variação relaciona-se com graus de: