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Já não dá mais para escapar: é Carnaval, a festa
dos tímidos. Foi Rubem Braga quem cunhou a expressão,
e ele se assombrava diante da conversão dos rapazotes
e raparigas recatados do cotidiano em alegres piratas,
marinheiros e havaianas na avenida.
Não sei se o paralelo, contudo, é possível. O mundo
mudou. Com a proliferação das redes sociais, parece que
não sobraram recatados, aliás. Expõem-se ali todos –
criam suas fantasias e nelas investem, dia após dia,
desfilando não de pirata, mas de hipster, intelectual,
sensível, engajado, despreocupado, desconstruído,
pós-moderno, bacanudo.
Na avenida ou nas telas, é tudo fantasia. Na essência,
o homem é o mesmo: um medroso. Massacrado pelo
entorno, assoberbado pela vida, o homem só quer uma
trégua dos problemas, de tempos em tempos; esquecer
os balanços e mensalidades para flertar, pular e se
embebedar.
Sempre gostei de ver o Carnaval dos outros, mas
até para a festa dos tímidos eu era tímido demais, então
nunca tive o costume de pular em bloquinho ou blocão.
Antes, eu me deliciava com a transformação das gentes.
Vendo dois milhões de foliões no Baixo Augusta, demorei
a entender, entretanto, o que incomodava naquele início
de Carnaval, em São Paulo.
Era o carnaselfie. O Carnaval sem transgressão –
não dos outros, não dos corpos, porque isso só disfarça
uma violência intolerável. Não a transgressão que
perturba as meninas que não querem contato, ou os
lojistas que não querem vandalismo, ou os moradores
que têm horror à sujeira brotando em suas calçadas.
Era o Carnaval sem transgressão subjetiva, de si.
Sem subverter a si próprio para alegrar o mundo com
a versão mais alegre e autêntica de si.
Nas ruas, os foliões saltitam com o celular nas mãos
e enchem suas redes sociais de fotos, posam uma
felicidade em ângulo-plongée atentos aos detalhes
de luz, enquadramento, likes e shares. Tudo para sair,
mesmo no sagrado ridículo do momento, bacana na foto.
A folia é regrada não por pais e mães, que há muito
desistiram de censurar a festa. Os regulamentos do
novo Carnaval são as novas regras da cinematografia.

 

Adaptado de: ESSENFELDER, Renato. Em tempos de carnaselfie, ninguém quer parecer ridículo. Estado de São Paulo, São Paulo, 12 de fevereiro de 2018. Disponível em http://emais.estadao.com.br/blogs/renato-essenfelder/em-tempos-de-carnaselfie-ninguem-quer-parecer-ridiculo/. Acesso em 12/05/2018.

Sobre o uso no texto de formas lexicais compostas, considere as afirmações abaixo.

I - A expressão pós-moderno (l. 12) é formada me-diante o processo de composição por justaposição.

II - Carnaselfie (l. 26), o neologismo proposto pelo autor, constitui exemplo do processo de formação de palavras denominado composição por aglutinação.

III - A forma composta cinematografia (l. 42) é deri-vada, mediante o processo de formação de palavras denominado composição por aglutinação, dos itens lexicais cinema e grafia.

Quais estão corretas?

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