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Ele se aproximou e com a voz cantante de nordestino

que a emocionou, perguntou-lhe:

― E se me desculpe, senhorinha, posso convidar a

passear?

― Sim, respondeu atabalhoadamente com pressa,

antes que ele mudasse de ideia.

― E se me permite, qual é mesmo a sua graça?

― Macabea.

― Maca ― o quê?

― Bea, foi ela obrigada a completar.

― Me desculpe mas até parece doença, doença

de pele.

― Eu também acho esquisito mas minha mãe botou

ele por promessa a Nossa Senhora da Boa Morte se

eu vingasse, até um ano de idade eu não era chamada

porque não tinha nome, eu preferia continuar a nunca ser

chamada em vez de ter um nome que ninguém tem mas

parece que deu certo — parou um instante retomando o

fôlego perdido e acrescentou desanimada e com pudor

― pois como o senhor vê eu vinguei... pois é...

[...]

Numa das vezes em que se encontraram ela afinal

perguntou-lhe o nome.

― Olímpico de Jesus Moreira Chaves ― mentiu

ele porque tinha como sobrenome apenas o de Jesus,

sobrenome dos que não têm pai. [...]

― Eu não entendo o seu nome ― disse ela. ―

Olímpico?

Macabea fingia enorme curiosidade escondendo

dele que ela nunca entendia tudo muito bem e que isso

era assim mesmo. Mas ele, galinho de briga que era,

arrepiou-se todo com a pergunta tola e que ele não

sabia responder. Disse aborrecido:

― Eu sei mas não quero dizer!

― Não faz mal, não faz mal, não faz mal... a gente

não precisa entender o nome.

LISPECTOR, C. A hora da estrela. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1978 (fragmento).

Na passagem transcrita, a caracterização das personagens e o diálogo que elas estabelecem revelam alguns aspectos centrais da obra, entre os quais se destaca a

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