[...]
O professor amanheceu em Caratinga, vindo num ônibus São
Paulo – Salvador, que tinha tomado em Leopoldina. Demorara a
se decidir, e agora, quando estava prestes a concluir seu intento,
titubeava. Seria pecado matar a cobra que tinha se instalado sob
a cama? Não seria aquela a Serpente do Paraíso? Aquela cujo
veneno o asfixiava pouco a pouco? E se, não tendo coragem para
matar a cobra com suas próprias mãos, contrata-se alguém para
fazer, seria pecado? Estava ali, num restaurante à beira da
Rio-Bahia, um maço de notas no bolso esquerdo do paletó, pronto
para entregá-lo aquele que poria fim a seus infortúnios, àquele que
daria cabo à caninana. Estaria agindo errado? Quem pode saber?
Deus não nos manda mensagens se estamos ou não no caminho
justo. É o remorso que os indica. É a culpa que nos suplicia.
Quantas noites sem dormir passaram, tentando decifrar sinais que
nunca chegavam [...]
RUFFATO, Luiz. O segredo. in: Os sobreviventes. São Paulo: Boitempo Editorial, 2000 p. 76
Dadas as afirmativas sobre as características do fragmento desse
conto, considerando que o escritor propõe uma espécie de
aproximação entre os dilemas das personagens e o leitor,
I. O narrador entremeia na sua fala os pensamentos da
personagem, de modo a compor um discurso único.
II. A presença de perguntas no fragmento, o chamado discurso
indireto livre, é considerada um aspecto que aproxima o leitor
dos dilemas da personagem.
III. O dilema vivido pela personagem remete a um embate entre
o desejo pessoal de vingança e os valores que cercaram sua
formação.
verifica-se que está(ão) correta(s)