“Enquanto o saber, da tradição grega clássica à era das luzes e até o fim do século XIX,
era efetivamente algo para ser compreendido, pensado, refletido, hoje, nós, indivíduos,
vemo-nos, agora, privados do direito à reflexão...
Defrontamo-nos desde o século XVI, mas sobretudo no XX, com o desafio da ruptura
cultural entre a cultura das humanidades e a cultura científica. Essas duas culturas
possuem natureza inteiramente diferente."
MORIN, Edgar. Educação e complexidade: os sete saberes e outros ensaios. Trad. Edgard de Assis
Carvalho. São Paulo: Cortez, 2002 p. 51 57
A partir desses fragmentos, acompanhando a reflexão de Edgar Morin sobre a distinção e
a ruptura que se realizou entre os saberes, o que se verifica é o fato de que
“O que é então a liberdade? Nascer é ao mesmo tempo nascer no mundo e nascer do
mundo. O mundo está já constituído, mas também não está nunca completamente
constituído. Sob o primeiro aspecto, somos solicitados; sob o segundo, somos abertos a
uma infinidade de possíveis."
MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da percepção. São Paulo: Martins Fontes. 1999
p. 608-611(Adaptado)
A partir desse fragmento sobre o tema da liberdade e do determinismo no pensamento de
Merleau-Ponty, é CORRETO afirmar que
“Os que se dedicaram às ciências foram ou empíricos ou dogmáticos. Os empíricos, à
maneira das formigas, acumulam e usam as provisões; os racionalistas, à maneira das
aranhas, de si mesmos extraem o que lhes serve para a teia. A abelha representa a
posição intermediária: recolhe a matéria-prima das flores do jardim e do campo e com
seus próprios recursos a transforma e digere."
BACON, Francis. Novum organum, XCV.
A partir desse fragmento, para Francis Bacon, o que melhor caracteriza a natureza e os
procedimentos da ciência é o fato de ela
“Os homens não são apenas um resultado da história em sua indumentária e
apresentação, em sua figura e seu modo de sentir, mas também a maneira como veem e
ouvem é inseparável do processo de vida social tal como este se desenvolveu através
dos séculos. Os fatos que os sentidos nos fornecem são pré-formados de modo duplo:
pelo caráter histórico do objeto percebido e pelo caráter histórico do órgão perceptivo.
Nem um nem outro são meramente naturais, mas enformados pela atividade humana,
sendo que o indivíduo se auto percebe, no momento da percepção, como perceptivo e
passivo."
HORKHEIMER, Max. “Teoria tradicional e teoria crítica". In. Max Horkheimer e Theodor W. Adorno. Textos
escolhidos. Trad. Zeljko Loparié ... [et al.] 5 ed. São Paulo: Nova Cultural, p. 37 (Os pensadores).
Com base na leitura desse fragmento, considerando-se os pressupostos antropológicos
presentes no texto, é CORRETO afirmar que eles são
“A primeira proposição da moralidade diz que, para ter valor moral, uma ação deve estar
baseada no dever, declarou Kant. Nem todo mundo concordaria. Pode-se argumentar que
outros motivos contam tanto ou mais ___ o amor, por exemplo. Pode-se argumentar
também que os motivos importam menos que as consequências, sendo a ação moral
julgada não pela boa intenção das pessoas, mas pelo bem que praticam. Formalmente
falando, essas alternativas não estão em colisão direta com uma ética do dever, uma vez
que poderia haver, por exemplo, um dever de amar o próximo ou de produzir as melhores
consequências. Os contrastes, porém, são sempre feitos. O que eu espero da ética é que
ela ofereça um modo sistemático de saber, ou pelo menos de ter garantias para crer que
um curso de ação está certo ou errado. Tanto o 'Dever' quanto as 'melhores
consequências' apresentam suas ofertas e é interessante compará-las. (...) Uma ética que
faz apelo à razão tem, portanto, duas tarefas. Uma é fornecer as ferramentas para decidir
se racionalmente x, e não y, é a coisa certa a fazer. A outra é demonstrar que, ao fazer x,
uma pessoa estará agindo não apenas moralmente como também racionalmente."
HOLLIS, Martin. Filosofia. Um convite. Trad. Antivan G. Mendes. São Paulo: Loyola, 1996 p.162-165
A partir desse texto, considerando-se a importância dos valores éticos na estruturação
política das sociedades,
A meu ver, a democracia surge quando os pobres, tendo vencido os ricos, eliminam uns,
expulsam outros e dividem por igual com os que ficam o governo e os cargos públicos. E,
devo dizer, na maior parte das vezes estes cargos são atribuídos por sorteio. [...] Nesse
Estado não há obrigação de mandar, se não se for capaz de tal, nem de obedecer se não
se quiser [...]
PLATÃO. A República. Livro VII. Tradução Enrico Corvisieri. São Paulo: Nova cultural, 2000 p.274
Uma sociedade na qual os que têm direito ao voto são os cidadãos masculinos maiores
de idade é mais democrática do que aquela na qual votam apenas os proprietários e é
menos democrática do que aquela em que têm direito ao voto também as mulheres.
BOBBIO, Norberto. O futuro da democracia. Trad. Marco Aurélio Nogueira. São Paulo: Paz e Terra,
2000 p. 31
Com base na leitura desses fragmentos, considerando-se a caminhada histórica da
democracia na cultura ocidental, é CORRETO afirmar que
A doutrina democrática repousa sobre uma concepção individualista de sociedade [...]
Isso explica por que a democracia moderna se desenvolveu e hoje exista apenas onde os
direitos de liberdade foram constitucionalmente reconhecidos. [...]. Não há dúvida de que
a democracia tenha nascido da concepção individualista, atomista, da sociedade. Não há
também dúvida de que a democracia representativa nasceu do pressuposto (equivocado)
de que os indivíduos, uma vez investidos da função pública de escolher os seus
representantes, escolheriam os melhores.
BOBBIO, Norberto. O futuro da democracia. Trad. Marco Aurélio Nogueira. São Paulo: Paz e Terra,
2000 p. 23 e 154
Com base nesse fragmento, sobre a natureza e as históricas realizações da democracia,
é CORRETO afirmar que
47
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda, citando uma reflexão de Bárbara Freitag, diz: “Kohlberg
procurou discutir com os colegas os problemas emergidos no contexto da educação moral.
Para explicar as resistências desse contexto com relação à educação moral, pôs em
debate o que chamou de [currículo oculto] hidden curriculum e [atmosfera moral] moral
atmosphere [...]".
ARANHA, Maria Lucia de Arruda. Filosofia da educação. 2 ed. São Paulo: moderna, 1996 p.125
De acordo com Kohlberg, é CORRETO afirmar que
Uma das formas de abordarmos a identidade humana é o tema corpo e mente ou corpo e
psiquismo. Contemporaneamente, o clássico tema “corpo e alma" reaparece com todo
vigor na filosofia da mente, em profundo diálogo com a neurobiologia e a psicologia
cognitiva. Na tradição filosófica, essa temática esteve inscrita na busca pelas essências.
Considerando-se as concepções relacionadas à reflexão sobre o tema, é CORRETO
afirmar que
Há já algum tempo eu me apercebi de que, desde meus primeiros anos, recebera muitas
falsas opiniões como verdadeiras, e de que aquilo que depois eu fundei em princípios tão
mal assegurados não podia ser senão mui duvidoso e incerto; de modo que me era
necessário tentar seriamente, uma vez em minha vida, desfazer-me de todas as opiniões
a que até então dera crédito, e começar tudo novamente desde os fundamentos, se
quisesse estabelecer algo de firme e de constante nas ciências. (...). Tudo o que recebi,
até presentemente, como mais verdadeiro e seguro, aprendi-o dos sentidos ou pelos
sentidos. Ora, experimentei algumas vezes que esses sentidos eram enganosos, e que
de prudência nunca se fiar inteiramente em quem já nos enganou uma vez.
DESCARTES. Meditações Metafísicas. São Paulo: Abril Cultural. Os pensadores.
A partir desse fragmento de Descartes, sobre a concepção e os procedimentos do
racionalismo, é CORRETO afirmar que
Dentre as diversas tendências antiautoritárias, alguns pedagogos restringem-se a uma
visão baseada na psicologia; enquanto outros, preocupados com aspectos sociais e
políticos, estendem suas críticas também à sociedade a que pertencem, havendo, ainda,
quem concilie psicanálise e marxismo. Enquanto uns são típicos representantes da
pedagogia liberal; outros partem de pressupostos socialistas e, mais que reforçar a escola,
assumem a tarefa revolucionária de liberação das classes oprimidas.
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da educação. 3. ed. Revista e Ampliada, São Paulo: Moderna,
2006 p.171
Sobre a emergência e a atuação das teorias antiautoritárias, é CORRETO afirmar que,
nessa ótica,
“O olhar obtém mais ou menos das coisas segundo a maneira pela qual ele as interroga,
pela qual ele desliza ou se apoia nelas. Aprender a ver as coisas é adquirir um certo estilo
de visão, um novo uso do corpo próprio, é enriquecer e reorganizar o esquema corporal.
Sistema de potências motoras ou de potências perceptivas, nosso corpo não é objeto
para um “eu penso": ele é um conjunto de significações vividas que caminha para seu
equilibrio."
MERLEAU-PONTY, M. Fenomenologia da percepção. Trad. Carlos Alberto ribeiro de Moura. São Paulo:
Martins Fontes, 2006 p. 212
A partir desse fragmento, considerando-se a fenomenologia da percepção, de MerleauPonty,
sobre o processo epistemológico, é CORRETO afirmar que
Leia os fragmentos a seguir, retirados do diálogo entre Sócrates e Glauco.
SOCRÁTES ___ O método dialético é o único que se eleva, destruindo as hipóteses, até o
próprio princípio para estabelecer com solidez as suas conclusões, e que realmente
afasta, pouco a pouco, o olhar da alma da lama grosseira em que está mergulhado e o
eleva para a região superior, usando como auxiliares para esta conversão as artes que
enumeramos.
GLAUCO ___ Até onde entendo, concordo contigo.
SOCRATES ___ Também chamas dialético àquele que compreende a razão da essência
de cada coisa? E aquele que não o pode fazer? Não dirás que possui tanto menos
entendimento de uma coisa quanto mais incapaz é de a explicar a si mesmo e aos
demais?
PLATÃO. A República. Livro VII. Tradução Enrico Corvisieri. São Paulo: Nova cultural, 2000 . p.247- 248
Considerando-se o pensamento socrático-platônico, o conceito de dialética
Leia o fragmento a seguir.
Não resta dúvida de que todo o nosso conhecimento começa pela experiência;
efetivamente, que outra coisa poderia despertar e pôr em ação a nossa capacidade de
conhecer senão os objetos que afetam os sentidos e que, por um lado, originam por si
mesmos as representações e, por outro lado, põem em movimento a nossa faculdade
intelectual e levam-na a compará-las. Ligá-las ou separá-las, transformando assim a
matéria bruta das impressões sensíveis num conhecimento que se denomina experiência?
Assim, na ordem do tempo, nenhum conhecimento precede em nós a experiência e é com
esta que todo conhecimento tem o seu início. Se, porém, todo o conhecimento se inicia
com a experiência, isso não prova que todo ele derive da experiência.
KANT. Critica da razão pura. Trad. Manuela Pinto dos Santos. 3a. ed. Lisboa: Fundação Calouste
Gulbenkian, 1994 p.36-37
A partir desse fragmento e de outras informações sobre a teoria kantiana do
conhecimento, é CORRETO afirmar que
"Todo conceito nasce por igualação do não igual. Assim como é certo que nunca uma
folha é inteiramente igual a uma outra, é certo que o conceito de folha é formado por
arbitrários abandonos dessas diferenças individuais, por um esquecer-se do que é
distintivo, e desperta então a representação, como se na natureza além das folhas
houvesse algo que fosse "folha", uma espécie de folha primordial, segundo a qual todas
as folhas fossem tecidas, desenhadas, recortadas, coloridas, frisadas, pintadas, mas por
mãos inábeis, de tal modo que nenhum exemplar tivesse saído correto e fidedigno como
cópia fiel da forma primordial (...). O que é a verdade, portanto? Um batalhão móvel de
metáforas, metonímias, antropomorfismos, enfim, uma soma de relações humanas, que
foram enfatizadas poética e retoricamente, transpostas, enfeitadas, e que, após longo uso,
parecem a um povo sólidas, canônicas e obrigatórias: as verdades são ilusões, das quais
se esqueceu o que são, metáforas que se tornaram gastas e sem forma sensível, moedas
que perderam sua efígie e agora só entram em consideração como metal, não mais como
moedas."
Nietzsche. Sobre a verdade e a mentira. Coleção. Os pensadores. São Paulo: Nova cultural, 1991 p. 34-35
Com base nesse fragmento, considerando o tema do conhecimento e da verdade em
Nietzsche, é CORRETO afirmar que